quarta-feira, 3 de outubro de 2012

estudo dirigido François Hartog em A História de Homero a Santo Agostinho (2001: 145-151)


ESTUDO DIRIGIDO
A partir da leitura do texto de Cícero (A origem da História, as leis da História e a eloquência do fórum) publicado por François Hartog em A História de Homero a Santo Agostinho (2001: 145-151) diga quais são as principais características da historiografia romana antiga enunciadas por Cícero. Para responder esta pergunta leve em consideração a afirmação de François Hartog (2001: 216, A evidência da História: O que os historiadores veem que diz que:
A história romana é, com efeito em resumo demasiado rápido, uma história sem história (no sentido grego de investigação), sem testemunhas, nem autópsia, tampouco dois lados (Roma está inteiramente em Roma). Ela é concebida com opus oratorium, de acordo Cícero, ou narratio, narrativa literária composta de autores (scriptores), personalidades importantes que, ao julgarem necessário, recorrem a fiadores ou autoridades (auctores).

A história romana foi escrita através de narrações sem que se houvesse investigação. Para ser historiador se deveria apenas falar a verdade, portanto a menor hipótese de uma falácia deveria ser afastada imediatamente.
Apenas o ócio fazia-se necessário à escrita da história em Roma, a leitura de escritos históricos gregos era de grande valia para formar o estilo narrativo das crônicas. Porém as crônicas romanas não se assemelhavam muito com as crônicas gregas, pois as gregas eram escritas por quem realmente esteve nos relatos, enquanto as romanas eram escritas por aristocratas que ao ouvirem a versão romana dos fatos os transcreviam.
Somente era observada a versão vencedora romana, os outros povos sequer eram observados, assim como os aedos e primeiros historiadores gregos faziam. A história romana em um sentido de análise a partir dos gregos foi um retrocesso imenso, pois a história grega teve uma revolução iniciada por Heródoto, a investigação e relato fidedigno do que se via, enquanto os romanos apenas relatavam por escrito o que era relatado oralmente.
Apenas em casos especiais eram buscados os relatos de quem realmente esteve nos fatos escritos, em geral não se fazia uma busca de quem realmente participou do fato.  A história a princípio, teve seus primeiros registros eternizados na confecção de anais. Esses anais tinham por objetivo preservar a memória dos atos oficiais para dar publicidade aos feitos do imperador.

Resenha: A sociedade ordens e classes Pierre Chaunu

Resenha: A sociedade ordens e classes
Pierre Chaunu
 A organização social é extremamente abstrata, porém faz parte da sociedade e a rege. Através da interpretação do abstrato que é possível compreender a sociedade. Por essa razão a história social não pode ser preterida, mas sim estudada a priori para se entender a História de um povo. É certo que durante o início do período moderno a opulência e o poder aquisitivo são menos importantes que um berço privilegiado.
A apresentação de Chaunu é comparativa. Ele nos apresenta a Europa ocidental como paradigma e demonstra pouco da oriental para que se possam perceber as mudanças.
A realidade social na Idade Moderna é o surgimento da burguesia, a queda do regime de ordens e o surgimento das classes sociais. A burguesia buscou ascender à nobreza, através de casamentos com nobres, porém foi um processo lento e gradual onde a própria burguesia mais antiga impôs barreiras à escalada social de novos burgueses.
Nesse período moderno pode-se ver que a burguesia mesmo que inconscientemente, percebeu a mudança da estratificação social e tentou evitar a qualquer custo, porém não obteve êxito. Chaunu nos mostra que a mudança da organização social de ordens para classes passou por um período em que “se viveu uma tendência para o regime de castas, onde a endogamia é a realidade”. A burguesia via a mudança, pagava caro para parasse, porque estava pagando caro para ascender à nobreza e legitimando sua riqueza, mas as relações sociais obtêm mutações a todo instante.
O autor apresenta a acumulação de riquezas como a base da mudança na estratificação social, como a introdução de pessoas em uma ordem crescente, nobreza, em detrimento da camponesa, através de mudanças na utilização da terra por força do renascimento que de certa forma foi esvaziando o campo. Cita exemplos nos informando “em parte alguma a acumulação capitalista do grande comércio é tão antiga como na Holanda, tão rápida como na Inglaterra”, e demonstra como se deu o processo na Inglaterra “A burguesia introduziu-se nos moldes flexíveis duma sociedade aristocrática que ela mesma transformou”. Portanto não foram necessários golpes.
Exemplos de outras partes da Europa, no norte ocidental a acumulação lenta e atrasada gera “reflexos mais retrógrados de rejeição de crescimento”, ao sul “não há ameaças sérias à estratificação feudal de ordens”. A leste “a aristocracia reforça o seu poder sobre um campesinato em queda de estatuto”. Portanto Chaunu apresenta a acumulação e capitalização monetária como as causas da transformação da sociedade e, portanto geradora da revolução industrial na Inglaterra.
A mudança da organização social é lenta, profunda, transformadora. A Revolução Francesa é exemplo disso a partir de 1750 de acordo com Chaunu pode até mesmo haver recuos nos avanços das mudanças. “Ao quebrar o crescimento econômico, motor da desordem social, a Revolução Francesa, por um ricochete inevitável, provocou mesmo um endurecimento do que podia ainda subsistir das antigas estruturas e ordens”. Com isso algumas regiões sob o domínio de conservadores podem manter-se por mais tempo ligadas ao sistema anterior.
O autor se remete ao sistema de castas indianas para explicar porque se remeteu a tal regime. Porém apresenta hierarquia social nessa estratificação.
De acordo com Chaunu
a sociedade barroca e clássica do século XVII e primeiro quartel do XVIII está mais ligada às ordens que às classes, as ordens de valores sociais dos anos 1600-1750 permanecem infinitamente mais próximas da Idade Média que dos valores saídos da revolução industrial,
com isso se percebe que a Igreja assim como a burguesia acreditam que a legitimação da sociedade europeia se dá através das ordens e não pelas classes.
Os burgueses são qualificados como honrados ou honestos pela utilidade de empregar os trabalhadores braçais e pela riqueza. “Se vivem na cidade e se fazem parte das honras, cargos e privilégios de Cidadão, todos podem aspirar ao título de burguês”. Os burgueses são respeitados e possuem crédito com o Poder se tornando muito poderosos nas cidades.
Os mendigos, vagabundos e trabalhadores da cidade são ignorados pela nobreza e burguesia, no entanto os lavradores não o são, pois a grande parte da riqueza é fruto da terra. “A grande riqueza não é tanto a terra, na verdade, mas sim os camponeses que a trabalham”, com isso é vista a consciência de que o trabalhador rural tem importância pela falta de maquinário.
É visto que o nível de vida é medido pelo número de criados que lhe prestam seus serviços. A necessidade de se afirmar custa muito caro, e “se paga o preço para obter a honra que é herdada por alguns poucos, embora sob pena de a perderem por falta de dinheiro”. Talvez seja essa a motivação de casamentos entre burgueses e nobres, elevando-se assim os burgueses ao status de nobres.
Como a nobreza tem origem na terra, em tese o nobre é grande proprietário rural e “a fonte da riqueza e do poder não reside no comércio que o fez, mas na numerosa massa de homens que vivem da terra”, a burguesia busca, com o dinheiro obtido no comércio, a compra de terras que traz ascendência de hierarquia, prestígio e honra assim a nobreza da burguesia se legitima.
Assim como em camadas superiores, os camponeses também são conservadores “inimigos obstinados do progresso agrícola e abrandamento dos costumes, chegando a vender o seu pão a velhos clientes a aceitar propostas mais vantajosas por parte de indivíduos com os quais não têm o hábito de negociar”. Assim vemos o quanto à lógica capitalista ainda não estava estabelecida e como supracitado a sociedade moderna está mais próxima do medievo que da sociedade capitalista pós-revolução industrial.
 Como os burgueses não são campesinos, suas propriedades necessitavam de camponeses para criar animais e lavrar a terra. Surgem nesse contexto os meeiros, posseiros, rendeiros e artesãos rurais, “especuladores de pequenos negócios”. Trabalhadores de agricultura e pecuária familiar onde o principal bem é um animal de tiro ao serviço de 8 a 10 hectares de exploração da terra. Na Grã-Bretanha se denominou de genro.
Porém o caminho do campo à burguesia se fazia possível,
agricultores enriquecidos, rendeiros cobradores de talha, hábeis artífices da reação senhorial de que sabem, dadas as circunstâncias, captar os lucros, essa pequena aristocracia de ‘pessoas importantes da terra’ constitui o primeiro escalão da ascensão social e a primeira etapa para a burguesia.
Portanto, ser burguês era almejado por pelos menos favorecidos da sociedade.
Os burgueses passam a encarregar-se dos serviços dos Estados territoriais, cobranças de impostos, serviços judiciais, e assim forma um novo controle aristocrático de domínio senhorial. Tanto que Chaunu cita “que mais de 50% da colheita ia, por diversos meios, enriquecer as classes não camponesas”. Assim é possível observar que a burguesia torna-se muito importante.
Como a ascensão social é travada principalmente por quem ascendeu havia maior dificuldade a cada geração para que se fosse alcançada a nobreza. No século XVII na França há uma “nobreza de função”, onde “recebem uma nobreza não transmissível, todavia se mantém depois de três gerações no posto”, que provavelmente seja a causa de os pais geralmente terem vontade de que seus filhos herdem suas profissões. Esses ofícios eram comprados muito caros, porém “o seu preço é a garantia de eficácia”, formaram o “Estado dos magistrados” que oneram ainda mais a folha salarial do Estado.
O rei vendia aos oficiais sobrevivências, mesmo exercendo suas funções tinham a competência de designar um sucessor, parente ou comprador. Por isso “a burguesia compra feudos e ofícios. Torna-se nobreza de toga. Satisfeita com sua promoção, ela fecha a sete chaves a porta que transpôs”. Com isso o parlamento se tornou fonte de enobrecimento através do cargo de referendário “num cargo de livre-trânsito. O referendário é um estado que apenas se abraça para deixá-lo”, um trampolim aos cargos enobrecedores.
Por isso,
devido à barreira da admissão erguida contra os homines Novi, que veiculam o dinheiro fresco da venda e da mercancia, os ofícios do Parlamento, apesar ou por causa do prestigio a eles ligado, valem quatro ou cinco vezes menos que o preço dos ofícios enobrecedores, à mercê, muito mais liberal, do rei.
Ou seja, era muito mais barato entrar no Parlamento e comprar seu título de nobreza, que tentar comprar diretamente. A receita teórica estatal era em grande parte originária da venda de títulos de ofícios, cargos esses que eram fim último dos lucros comerciais.
A burguesia protestante fora constrangida a permanecer na mercancia e finança. Com isso eles foram privilegiados porque lidavam com o dinheiro do financiamento do Estado e comércio internacional. Sendo um dos pilares de sustentação da construção de uma Europa capitalista.


A reviravolta da História A queda do muro de Berlim e o fim do comunismo Marc Ferro 2011


Resenha: A reviravolta da História
A queda do muro de Berlim e o fim do comunismo
Marc Ferro 2011
Em uma análise pessoal, partindo de um princípio de que seus leitores são conhecedores dos fatos, Marc Ferro em seu ensaio nos apresenta a derrocada do comunismo através de relatos de fatos e experiências em países socialistas e capitalistas durante a Guerra Fria. Por falta de fontes, a “imparcialidade histórica” é deixada de lado e alguns argumentos ficaram vagos, o que não tira o valor do trabalho.
O muro de Berlim, símbolo da guerra de força e ideológica entre capitalistas e socialistas, edificado em 1961 e derrubado em 1989, representou a imagética comunista do século XX, dividia Berlim, capital alemã, ao meio, porém não tinha uma função defensiva militar como a muralha da China por exemplo.
Foi usado para extinguir o êxodo de berlinenses e outros alemães da República Democrática Alemã (RDA) para a República Federal Alemã (RFA). Fora uma defensiva da extinção do regime, pois o atraso tecnológico imposto pela URSS aos países ‘colonizados’ ante o avanço apoiado pelos EUA aos países ‘imperializados’ era decisivo na escolha do lado em que o povo se definia em ficar.
A queda do muro não foi simplesmente alvenaria e concreto indo ao chão, por 1989 ser o ano do bicentenário da Revolução Francesa, teve uma simbologia posteriormente atribuída a ela, o fim do comunismo e o fim da URSS. Algum tempo após a queda do muro, a Alemanha se reunificou e a cisão da Europa em dois blocos findou-se.
A análise de Ferro não é simplesmente acerca da queda do muro, mas de vários os motivos para que isso ocorresse. A política da perestroika de Gorbachev, que abriu as liberdades na extinta URSS, a pressão de Iéltsin, que ‘curiosamente’ sucedeu Gorbachev no comando da Rússia, a política de Kohl, que afirmava: “a unificação alemã e europeia eram duas faces de uma mesma moeda” e a pressão popular ocidental para o fim da Guerra Fria.
O pacto de Varsóvia não agradava a opinião pública, assim como a Comecon, por não levar o desenvolvimento a nenhum país participante. Os países da cortina de ferro não concordavam em servir de escudo a um sistema falido. A Alemanha se unificava e o desenvolvimento seguia rumo a leste novamente fazendo da nação outra vez um país desenvolvido.
A iniciativa de Gorbachev de abandonar a política repressiva não foi bem vista pela população que não via vantagens nisso. No entanto o regime não suportava mais a pressão de todos os lados. Ao autorizar a liberdade de informação, início de uma liberdade de expressão, acredito que talvez Gorbachev estivesse disposto a findar o regime extremamente falho, pois era dispendioso demais para se sustentar por si só.
 A falta de controle a que o governo se via atado, pois dominar um país imenso, de diversas etnias e religiões, que iniciavam um processo de independência da URSS, era um problema que sempre fora negado e ocultado, assim como os aspectos de disfunção do Estado, estava sendo descoberto pela liberdade que a imprensa obtinha cada vez mais.
O sistema socialista se via em franco declínio pela exploração dos trabalhadores, onde o surgimento do sindicato da solidariedade fora combatido e repreendido a força pelas autoridades. Frases como:
Muitas vezes, os dirigentes sindicais não passam de criados dos diretores das fábricas.
Cabe aos sindicatos, antes de mais nada, defender os direitos dos trabalhadores, mas eles não poderiam fazer grande coisa se não reforçássemos a disciplina do trabalho e se a produção não aumentasse.
A greve não é proibida, mas ela não é normal neste país.
Mostram que assim como no capitalismo, o interessante não é o bem comum dos trabalhadores, mas o que estes são capazes de produzir.
Afirmações como as supracitadas, comuns de se ouvir, entender e compreender na sociedade capitalista neoliberal de exploração máxima da mão de obra, segundo as ideias marxistas não deveriam sequer ser imaginadas numa sociedade comunista ou socialista. Por esse motivo, talvez a URSS não obteve êxito em suas conquistas e se viu obrigada a regredir e consequentemente acabar.
A falta de suprimentos, a desvalorização monetária, o processo de privatização, a liberdade política, liberdade de imprensa e expressão, a estratégia de democratização, a falta de unidade e sentimento nacional por conta de nações que integravam a URSS, conflitos entre as nações pertencentes ao país foram algumas das causas do complexo processo do fim da URSS segundo Ferro.
Há dúvidas acerca da política perestroika de Gorbachev, se teria sido uma forma de tentar salvar o regime falido e assim manter o socialismo, ou se sua intenção fora de findar com o falho sistema. De acordo com a primeira alternativa seria um fiasco, porém se sua real intenção tenha sido a segunda, o sucesso é inegável e legitimo.
Gorbachev assolara as bases do poder do Estado, por isso sofreu tentativas de golpe de estado frustradas, no entanto se viu obrigado a renunciar. O que se seguiu foi uma série de conflitos e independências dos países formadores da URSS, a exceção da Tchetchênia que tem recursos petrolíferos, portanto uma fonte de riqueza estratégica. Porém os tchetchenos buscaram sua liberdade e o que se sucedeu foi uma série de conflitos nessa região, com a manutenção do poder russo na região.
Em seu ensaio sobre o fim do comunismo, Ferro cita obras cinematográficas, entre as quais Adeus Lênin e A vida dos outros, para poder exemplificar e explicar a nostalgia dos países do leste europeu em relação ao antigo regime. Graças às visões deturpadas que o Ocidente tinha do regime socialista, como paraíso dos trabalhadores, ou como fonte de violência indescritível, a expansão do comunismo pelo leste europeu preocupou a sociedade.
Porém ficou claro com o fim do regime que os ideais da Revolução Russa foram distorcidos, portanto o poder socialista ficou fadado ao fracasso. Tanto é real que mesmo com o capitalismo crescendo e se estabelecendo na Rússia, o poder mantém-se com os mesmos líderes políticos. O próprio atual presidente russo, Vladmir Putin era membro da KGB, agência de inteligência e espionagem russa.
A queda do regime socialista do Oriente pode ter se dado porque o regime se instaurou em um contexto que provavelmente não estava pronto para chegar ao comunismo, pois segundo Marx, o comunismo se dará a partir da revolta do proletariado explorado a extremo, a Rússia de 1917 era praticamente feudal, é como se tivesse pulado a etapa do mercantilismo da teoria marxista. As teorias devem ser testadas, de acordo como são estabelecidas, adaptadas à realidade, pois geralmente são utópicas. Eis um dos grandes erros dos russos ao se precipitarem em estabelecer o socialismo antes de terem a mais valia como base das relações sociais.
Porém o século XX foi de grande valia a Rússia, apesar dos genocídios, guerras, terrorismo, o crescimento tecnológico e industrial obtido em apenas um século foi equivalente aos cinco séculos de desenvolvimento no Ocidente. Do mesmo modo, a sua queda foi proporcional ao seu crescimento, pois ideologias são distorcidas quando da passagem do poder. Cada homem tem uma visão diferente do outro, assim o modo como se dirige uma nação se modifica a cada passagem de poder, ou até mesmo dentro de um mesmo governo.
A queda do Muro da Vergonha, como ficou conhecido na década de 1990, não foi causa do fim do comunismo, todavia foi uma mostra da fraqueza vivida pelo Estado socialista à época. A unificação alemã foi penosa à Alemanha, pois o leste estava totalmente desestruturado.