quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A reviravolta da História A queda do muro de Berlim e o fim do comunismo Marc Ferro 2011


Resenha: A reviravolta da História
A queda do muro de Berlim e o fim do comunismo
Marc Ferro 2011
Em uma análise pessoal, partindo de um princípio de que seus leitores são conhecedores dos fatos, Marc Ferro em seu ensaio nos apresenta a derrocada do comunismo através de relatos de fatos e experiências em países socialistas e capitalistas durante a Guerra Fria. Por falta de fontes, a “imparcialidade histórica” é deixada de lado e alguns argumentos ficaram vagos, o que não tira o valor do trabalho.
O muro de Berlim, símbolo da guerra de força e ideológica entre capitalistas e socialistas, edificado em 1961 e derrubado em 1989, representou a imagética comunista do século XX, dividia Berlim, capital alemã, ao meio, porém não tinha uma função defensiva militar como a muralha da China por exemplo.
Foi usado para extinguir o êxodo de berlinenses e outros alemães da República Democrática Alemã (RDA) para a República Federal Alemã (RFA). Fora uma defensiva da extinção do regime, pois o atraso tecnológico imposto pela URSS aos países ‘colonizados’ ante o avanço apoiado pelos EUA aos países ‘imperializados’ era decisivo na escolha do lado em que o povo se definia em ficar.
A queda do muro não foi simplesmente alvenaria e concreto indo ao chão, por 1989 ser o ano do bicentenário da Revolução Francesa, teve uma simbologia posteriormente atribuída a ela, o fim do comunismo e o fim da URSS. Algum tempo após a queda do muro, a Alemanha se reunificou e a cisão da Europa em dois blocos findou-se.
A análise de Ferro não é simplesmente acerca da queda do muro, mas de vários os motivos para que isso ocorresse. A política da perestroika de Gorbachev, que abriu as liberdades na extinta URSS, a pressão de Iéltsin, que ‘curiosamente’ sucedeu Gorbachev no comando da Rússia, a política de Kohl, que afirmava: “a unificação alemã e europeia eram duas faces de uma mesma moeda” e a pressão popular ocidental para o fim da Guerra Fria.
O pacto de Varsóvia não agradava a opinião pública, assim como a Comecon, por não levar o desenvolvimento a nenhum país participante. Os países da cortina de ferro não concordavam em servir de escudo a um sistema falido. A Alemanha se unificava e o desenvolvimento seguia rumo a leste novamente fazendo da nação outra vez um país desenvolvido.
A iniciativa de Gorbachev de abandonar a política repressiva não foi bem vista pela população que não via vantagens nisso. No entanto o regime não suportava mais a pressão de todos os lados. Ao autorizar a liberdade de informação, início de uma liberdade de expressão, acredito que talvez Gorbachev estivesse disposto a findar o regime extremamente falho, pois era dispendioso demais para se sustentar por si só.
 A falta de controle a que o governo se via atado, pois dominar um país imenso, de diversas etnias e religiões, que iniciavam um processo de independência da URSS, era um problema que sempre fora negado e ocultado, assim como os aspectos de disfunção do Estado, estava sendo descoberto pela liberdade que a imprensa obtinha cada vez mais.
O sistema socialista se via em franco declínio pela exploração dos trabalhadores, onde o surgimento do sindicato da solidariedade fora combatido e repreendido a força pelas autoridades. Frases como:
Muitas vezes, os dirigentes sindicais não passam de criados dos diretores das fábricas.
Cabe aos sindicatos, antes de mais nada, defender os direitos dos trabalhadores, mas eles não poderiam fazer grande coisa se não reforçássemos a disciplina do trabalho e se a produção não aumentasse.
A greve não é proibida, mas ela não é normal neste país.
Mostram que assim como no capitalismo, o interessante não é o bem comum dos trabalhadores, mas o que estes são capazes de produzir.
Afirmações como as supracitadas, comuns de se ouvir, entender e compreender na sociedade capitalista neoliberal de exploração máxima da mão de obra, segundo as ideias marxistas não deveriam sequer ser imaginadas numa sociedade comunista ou socialista. Por esse motivo, talvez a URSS não obteve êxito em suas conquistas e se viu obrigada a regredir e consequentemente acabar.
A falta de suprimentos, a desvalorização monetária, o processo de privatização, a liberdade política, liberdade de imprensa e expressão, a estratégia de democratização, a falta de unidade e sentimento nacional por conta de nações que integravam a URSS, conflitos entre as nações pertencentes ao país foram algumas das causas do complexo processo do fim da URSS segundo Ferro.
Há dúvidas acerca da política perestroika de Gorbachev, se teria sido uma forma de tentar salvar o regime falido e assim manter o socialismo, ou se sua intenção fora de findar com o falho sistema. De acordo com a primeira alternativa seria um fiasco, porém se sua real intenção tenha sido a segunda, o sucesso é inegável e legitimo.
Gorbachev assolara as bases do poder do Estado, por isso sofreu tentativas de golpe de estado frustradas, no entanto se viu obrigado a renunciar. O que se seguiu foi uma série de conflitos e independências dos países formadores da URSS, a exceção da Tchetchênia que tem recursos petrolíferos, portanto uma fonte de riqueza estratégica. Porém os tchetchenos buscaram sua liberdade e o que se sucedeu foi uma série de conflitos nessa região, com a manutenção do poder russo na região.
Em seu ensaio sobre o fim do comunismo, Ferro cita obras cinematográficas, entre as quais Adeus Lênin e A vida dos outros, para poder exemplificar e explicar a nostalgia dos países do leste europeu em relação ao antigo regime. Graças às visões deturpadas que o Ocidente tinha do regime socialista, como paraíso dos trabalhadores, ou como fonte de violência indescritível, a expansão do comunismo pelo leste europeu preocupou a sociedade.
Porém ficou claro com o fim do regime que os ideais da Revolução Russa foram distorcidos, portanto o poder socialista ficou fadado ao fracasso. Tanto é real que mesmo com o capitalismo crescendo e se estabelecendo na Rússia, o poder mantém-se com os mesmos líderes políticos. O próprio atual presidente russo, Vladmir Putin era membro da KGB, agência de inteligência e espionagem russa.
A queda do regime socialista do Oriente pode ter se dado porque o regime se instaurou em um contexto que provavelmente não estava pronto para chegar ao comunismo, pois segundo Marx, o comunismo se dará a partir da revolta do proletariado explorado a extremo, a Rússia de 1917 era praticamente feudal, é como se tivesse pulado a etapa do mercantilismo da teoria marxista. As teorias devem ser testadas, de acordo como são estabelecidas, adaptadas à realidade, pois geralmente são utópicas. Eis um dos grandes erros dos russos ao se precipitarem em estabelecer o socialismo antes de terem a mais valia como base das relações sociais.
Porém o século XX foi de grande valia a Rússia, apesar dos genocídios, guerras, terrorismo, o crescimento tecnológico e industrial obtido em apenas um século foi equivalente aos cinco séculos de desenvolvimento no Ocidente. Do mesmo modo, a sua queda foi proporcional ao seu crescimento, pois ideologias são distorcidas quando da passagem do poder. Cada homem tem uma visão diferente do outro, assim o modo como se dirige uma nação se modifica a cada passagem de poder, ou até mesmo dentro de um mesmo governo.
A queda do Muro da Vergonha, como ficou conhecido na década de 1990, não foi causa do fim do comunismo, todavia foi uma mostra da fraqueza vivida pelo Estado socialista à época. A unificação alemã foi penosa à Alemanha, pois o leste estava totalmente desestruturado. 

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