A
escrita da História
Peter
Burke
Abertura
A história tradicional, onde se fazia história
política nacional, ou tendia a compreender tudo a partir de um viés político
começa a perder espaço e tem de dividir o espaço com a história nova, regional e
total, onde o político não figura tanta importância. Essa expansão do estudo historiográfico
fragmenta o estudo da história.
A história tradicional rankeana tem como paradigma o
viés político, a narração dos fatos, visão de cima voltada para os grandes homens,
baseada em documentos oficiais, com objetividade e quantitativa. A história
nova interessa-se por toda atividade humana, preocupa-se com a análise das
estruturas, rejeita a história dos fatos, preocupa-se com mudanças em longo
prazo, dá atenção às pessoas comuns, usa-se do relativismo cultural e interdisciplinaridade.
Os principais problemas da história nova são a
definição de fontes, método e explicação. Porém traz consigo a crítica a
maneira de se fazer história com a história vista de baixo e história social.
As diferentes formas de se fazer história trazem
consigo interpretações às vezes errôneas dos predecessores, Marx apesar de se
mostrar interessado pela história não era marxista, no entanto isso não impediu
que os seus seguidores, marxistas, buscassem fazer história a partir de um viés
econômico, Ranke com sua visão cientificista buscando a verdade histórica não era
rankeano, não impedindo também que seus seguidores o fossem.
A intenção de quem produz as fontes históricas deve
ser avaliada, pois Burke nos alerta “há possibilidade de falsificação das estatísticas
ou má interpretação das mesmas.” (p. 9) Isso nos traz um problema muito grande
a ser administrado, pois duvidar das fontes é um exercício que requer muito
conhecimento acerca do período estudado através de fontes que não podemos dar
como certas porque há intencionalidade na produção dos documentos que usamos
por fonte. Falácias tendenciosas com o intuito de enaltecer ou depreciar
pessoas ou povos são um jugo perigoso que o historiador deve saber se esquivar.
Burke nos atenta “a expansão do campo do historiador
implica o repensar da explicação histórica, uma vez que as tendências culturais
e sociais não podem ser analisadas da mesma maneira que os acontecimentos políticos.”
(p. 12) A crítica aos métodos de análise da historiografia rankeana e marxista nos
aponta essa nova história onde tudo é história, qualquer representação acerca
do Homem ou de suas relações é passível de análise historiográfica, abrangendo assim
períodos e locais que até então somente eram estudados por arqueólogos e antropólogos.
Se tudo é historia então independente das fontes que
serão utilizadas, sejam elas orais, escritas, arqueológicas, antropológicas, sociológicas,
geográficas, qualquer assunto vira, portanto objeto de estudo da história.
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