sexta-feira, 24 de agosto de 2018

América Espanhola colonial


A necessidade e a disponibilidade dos recursos formam a estrutura produtiva local. Essa foi a máxima em todas as civilizações durante a história da humanidade, e na América Espanhola não poderia ser diferente. Como a imigração europeia e africana eram a principal fonte de expansão demográfica, e a dominação espanhola foi massacrante, os costumes e hábitos alimentares foram ressignificados.
No México a estrutura mais utilizada foi a hacienda, onde a policultura predominava, na América Central Insular o regime prioritário foi de plantation com uso de escravos negros em sua maioria, nos Andes a percentagem de terra cultivável é extremamente pequena, portanto os planaltos e vales foram dominados por produtos de interesse dos colonos e em grandes altitudes o gado foi substituindo pouco a pouco os llamas nativos, já no sul as planícies de vegetação rasteira, os pampas, praticamente desabitadas foram utilizadas para pasto.
Como nos Andes a grande variação de altitude dificultou a formação de grandes haciendas, então utilizou-se o sistema de encomiendas, diferente da região da América Central continental, onde os regimientos foram muito utilizados para aquisição de mão-de-obra. Nas regiões de vales, onde as terras eram muito férteis para a agricultura por conta da irrigação e utilização de insumos, os produtos tropicais (cana-de-açúcar, cacau, café) foram a fonte de renda para os agricultores.
Para logística desses produtos foram utilizadas principalmente as rotas terrestres, o que nem de longe diminuiu a importância dos rios no transporte de mercadorias, um exemplo é o Rio de la Plata na Argentina foi o maior ponto de escoamento da produção de gado e prata da região sul da América do sul.
A divisão do solo foi iniciada com pequenas porções de terra chamadas de peonías e caballerías divididas para agricultura de subsistência ou criação de gado. Como a maioria dos proprietários não reclamava seus domínios, por falta de dinheiro para investir, as terras foram sendo desbravadas e cultivadas por um número reduzido de colonos que detinham poderio econômico.
A pecuária extensiva foi sem dúvida a grande responsável pelo crescimento dessas posses, então para se legitimar a invasão de terras, o governo implantou a composición, uma taxa para regularizar terras invadidas ou compradas ilegalmente de indígenas. Com a composición a maioria das haciendas de terra cultivável, criação de gado e terras da Igreja foram regularizadas.
Enquanto o modelo de pecuária extensiva se desenvolvia e destruía as lavouras indígenas em campo aberto, a necessidade de mais terras cultiváveis e pastagens crescia com o aumento da demanda por produtos agropecuários para comércio doméstico na colônia e exportação.
A agricultura ao se desenvolver trouxe a necessidade de grandes latifúndios (haciendas) onde havia plantações de cana, milho, feijão, trigo, pimenta, para alimentar principalmente a população mineira e a população urbana. Por sua predisposição de multicultura as haciendas necessitavam de mão-de-obra especializada e emprego de maquinário, o que trouxe inicialmente dificuldade para os índios.
Os hacendados ganhavam força e reduziam o poder estatal, na medida em que suas propriedades cresciam, pela possibilidade de invadir terras de pequenos agricultores e legitimar seus domínios a partir do pagamento da composición, portanto os latifundiários (hacendados) tinham seu poder aumentado a partir de que em suas propriedades eles eram os governantes.
Por conta disso, contrariando a lei de não escravização dos índios, havia uma crescente escravização indígena, na tentativa de suprir a necessidade de mão-de-obra. Porém a escravidão negra e a subdivisão das terras para posseiros e meeiros supriu de vez a necessidade de mão de obra.
A coroa espanhola iniciou o processo de colonização com a obrigação dos indígenas ao pagamento de tributos, e trabalhos sazonais forçados, onde as comunidades determinavam o período trabalhado, as condições de trabalho, e a distribuição da força de trabalho.
Com o desenvolvimento da agricultura e pecuária, o Estado viu que esse modelo não teria muito êxito, assim mudando o sistema para os repartimientos, onde os índios perderiam o controle do trabalho e receberiam salários para exercer as funções. Conforme se desenvolviam, agricultura e a pecuária na colônia necessitaram de mão de obra permanente e um reforço sazonal, épocas de capina, plantio e colheita. Com isso houve a necessidade de compra de escravos negros e escravização dos índios, por meio de endividamento dos mesmos, pois havia a possibilidade de receberem adiantamentos de salário em dinheiro ou roupas. Portanto a mão-de-obra indígena passou de empregados sazonais, que tinham controle total de sua força de trabalho, para assalariados endividados, o que os tornou escravos.
Grande parte das haciendas e fazendas de criação de gado tinham intuito primordial de abastecer o mercado mineiro e urbano. Como grande parte da população urbana era de pequenos produtores rurais, a produção da haciendas precisava ser estocada para a venda no período da entressafra.
A região da Mesoamérica sofre com variações contínuas e intempéries climáticas. Como a hacienda tinha menos propensão a ser abalada por intempéries climáticas, por possuir maior área plantada, ter sementes selecionadas e utilizar-se de insumos agrícolas e ter silos e celeiros para estocar grãos, tinha maior chance de sua produção ser a alternativa para alimentação da população em anos de seca ou enchentes.
A hacienda possuía uma realidade de policultura, pois a sua estrutura a obrigava a isso. De um lado havia a produção comercial (cana-de-açúcar, trigo, milho, agave ou gado), de outra parte a produção de subsistência (milho, feijão, pimenta), em outras partes havia a exploração de florestas, caieiras e pedreiras.
Como as intempéries aumentavam o poder de venda, os hacendados buscaram meios de aumentar suas propriedades para suprir a demanda, para isso avançou os limites de suas terras para dentro das terras dos pequenos proprietários e indígenas.
Cada hectare avançado dentro da terra do pequeno proprietário, reduzia a capacidade de produção dele e com isso, maior a probabilidade de ele necessitar comprar produtos do hacendado, o mesmo com as terras indígenas, porém com a escassez de terras ou o índio ia para a cidade, aumentando o quantitativo de pessoas para comprar os produtos, ou ia trabalhar para o hacendado.

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