Ao longo do século XVIII, a Europa
passou por profundas transformações, que podem ser sintetizadas em duas
revoluções: a Industrial e a Francesa. Todo o quadro de instabilidade e crises
na Europa nesse período repercutiu em suas colônias, colocando em xeque o
sistema colonial.
Na América, iniciaram-se inúmeros
movimentos separatistas, a começar pela independência das Treze Colônias, em
1776. A disseminação de ideias iluministas e a insatisfação popular com os
governos absolutistas e as relações coloniais causaram um interesse na
emancipação política das colônias da América Espanhola.
No decorrer do século XVIII, a
autoridade do governo espanhol sobre suas colônias na América foi se tornando
cada vez menor. A derrota da Invencível Armada no século XVI reduziu a frota
naval, e a Espanha não possuía navios suficientes para patrulhar toda a
extensão da costa americana sob seu domínio. Assim os colonos conseguiam
comercializar com outros Estados europeus, contrariando o exclusivo colonial. Neste contexto foi liberado gradativamente o
comércio entre as colônias espanholas na América.
A primeira revolta popular visando a
emancipação se deu no Vis-Reino del Perú, no fim do século XVIII, com as
reformas do rei Carlos III. O curaca (líder indígena) chamado José Gabriel
Condorcanqui tinha muita influência entre os pueblos (povoados) locais, e com o fim do arrendamento da cobrança
de impostos e consequente maior rigor cobrança, a cobrança da mita se tornou um problema aos curacas, que viam sua liderança ser
minada, enquanto a cobrança, e a opressão, sobre o mitayos (trabalhadores ameríndios) aumentava.
José Gabriel Condorcanqui mudou seu
nome para Túpac Amaru II, em referência ao último rei inca, Túpac Amaru, líder
da resistência contra a dominação espanhola. A revolta de Túpac Amaru II teve
adesão de milhares de populares indígenas, negros escravizados e mestiços. A
revolta começou em 1780, com a morte de Antônio Arriaga, maior autoridade da
província de Tinta.
As tropas reais foram derrotadas em
várias frentes, contudo com reforços recém-chegados da Espanha, Túpac Amaru II
foi preso, enforcado e esquartejado, junto à sua esposa. O movimento foi
sufocado, mas o medo de um novo levante indígena atemorizou as elites da
América espanhola.
Em 1807, os exércitos franceses tomaram
Madri, prenderam e exilaram o rei Fernando VI, que retomou o poder somente em
1814. Entre 1808 e 1824, o Império Espanhol na América desmoronou e, em seu
lugar surgiram 19 países independentes. Os movimentos de emancipação que deram
origem a esses países foram motivados por fatores internos e externos:
•
Divulgação de ideias iluministas;
•
Revolução Francesa;
•
Independência dos EUA;
•
Independência do Haiti;
•
Imposição de monopólios sobre um
número crescente de produtos, entre eles o fumo, a pólvora, o sal, as bebidas
alcoólicas;
•
Fim do arrendamento da cobrança de
impostos para um maior rigor na cobrança;
•
Extinção do sistema de portos
únicos, com autorização de 20 novos portos americanos a fazer comércio com a
Espanha;
•
Constituição de Cádiz;
•
Fim das cobranças de impostos aos
ameríndios;
•
Fim da Mita (regime de trabalhos forçados sazonais);
•
Falta de representatividade política
para os comerciantes criollos.
Aos mais pobres fora reservado
apenas a repressão às suas revoltas sem lideranças de criollos ricos. A opressão
por chapetones e criollos era a realidade de indígenas, mestiços e
afrodescendentes.
No México, os padres Miguel Hidalgo,
em 1810, e José Maria Morelos, em 1812, lideraram levantes populares, onde a
independência estaria condicionada à redistribuição de terras. Os movimentos
foram duramente reprimidos, seus líderes foram fuzilados. Contudo o sentimento
de sublevação continuou vivo na mentalidade do povo.
Em 1821, o governo espanhol enviou o
militar criollo Augustín de Iturbide ao México para amenizar a situação e por
fim aos movimentos de independência. Contudo, Iturbide voltou-se contra a
coroa, e, aliado à elite criolla, elaborou o Plano de Iguala, na prática uma declaração de independência, coroando-se
rei do México. Segundo o plano, chapetones e criollos passavam a ter os mesmos direitos,
as propriedades ficavam preservadas e a religião católica permanecia como
oficial. Em 1824, porém, um grupo de militares contrários à política vigente,
prendeu e fuzilou Iturbide, passando o general Guadalupe Vitória ao cargo de
presidente do México.
Do México, a luta pela emancipação tomou
conta da região central da América, a região fora anexada ao recém emancipado
México, contudo separou-se formando a República Federativa das Províncias Unidas
Centro-Americanas (1823-1839). A região passou por guerras civis entre
1838-1839 e a região se fragmentou em 5 países diferentes: Honduras, El
Salvador, Nicarágua, Costa Rica e Guatemala.
Na América do Sul, os processos de
independência se concentraram entre 1810 e 1825. O primeiro país a se tornar
independente foi o Paraguai, em 1811, liderado pelo criollo Gaspar Francia.
Contudo, se destacam os generais criollos José de San Martín e Simón Bolívar.
José de San Martín, nascido em
Yapeyú, povoado da província de Corrientes, na Argentina. Criado na Espanha,
onde estudou e ingressou à vida militar. Em 1812 retornou ao Vis-Reino del
Plata e comandou a independência das Províncias Unidas del Rio de la Plata,
proclamada em Tucumán em 9 de julho de 1816.
San Martín comandou um exército de 5
mil homens, que lutavam juntos às suas famílias, oferecendo os azares de guerra
às mulheres e crianças, chamado Ejército
de los Andes, na independência da Argentina, seguindo para o Chile para
consolidar a independência proclamada por Bernardo O’Higgins, com o apoio do
mercenário inglês Lord Cochrane em 1818. Em seguida, escoltados por navios
ingleses, seguiu para o Vis-Reino de Nueva Granada, em 1821, onde encontrou-se
com Simón Bolívar em 1822, contudo após desentendimentos ideológicos,
retirou-se e embarcou à Europa, onde morou o resto de sua vida.
A Inglaterra, após a Revolução
Industrial visava novos mercados para expansão de suas relações comerciais,
visto que o constante crescimento de oferta de seus produtos necessitava de
demandas.
Simón Bolívar, nascido em Caracas,
na Capitania Geral da Venezuela, filho de aristocratas criollos, foi enviado
para a Espanha para completar seus estudos, retornando à América, faz parte da
Junta Governativa da Venezuela, e inicia a luta armada pela emancipação política
da Grã-Colômbia, em 1819, seguindo para a Venezuela, onde proclamou a independência
em 1821, seguiu para Guayaquil, onde encontrou-se com San Martín, e lutou pela
independência do Peru, conquistada em 1824, com o apoio do general Antônio José
Sucre. Seguindo para a Bolívia, onde em 1826, conquistaram a emancipação e
Sucre tornou-se o primeiro presidente boliviano.
Simón Bolívar tinha um projeto,
conhecido por bolivarianismo, de uma América unida em uma confederação, para
tanto, convidou os governantes a participar da Conferência Pan-Americana do
Panamá, em 1826. Nesse encontro, somente participaram os representantes de México,
Guatemala, Peru e Grã-Colômbia. Haviam divergências marcantes nos interesses
regionais dos caudilhos, encerrou-se
essa confederação, com a morte de Bolívar, em 1830, frustrando definitivamente
os planos para a formação de uma América unida.
Na luta para impedir a libertação de
suas colônias americanas, a Espanha contou com o apoio dos exércitos da Santa
Aliança. Apesar disso, foi derrotada pelos latino-americanos, apoiados pela
Inglaterra, no anseio de ampliar seus mercados na América, comprando matérias
primas e vendendo seus produtos industrializados.
A ocupação da Espanha pela França
foi o gatilho que desencadeou os movimentos coloniais de separação da Espanha,
embora suas origens tenham sido muito mais remotas e complexas. Napoleão
Bonaparte esperava que os colonos aceitassem de bom grado a mudança de dinastia
e enviou emissários com instruções aos administradores coloniais para que
proclamassem José Bonaparte como seu rei. No entanto, a opinião pública nas colônias
reagiu com repulsa à ocupação francesa e, em toda parte, proclamou efusivamente
sua lealdade a Fernando VII.
Quando as colônias instauraram
governos autônomos, Juntas Governativas, tratou-se essencialmente de uma reação
ao risco de que Napoleão pudesse conquistar totalmente a Península Ibérica, o
que ocorreu em 1808. Seu objetivo era romper a ligação com um governo
metropolitano que tinha grande probabilidade de cair totalmente sob domínio
francês.
A independência das colônias
espanholas não seria possível sem a participação das classes dominantes coloniais,
visto que Túpac Amaru II e os movimentos dos padres Hidalgo e Morelos foram
duramente reprimidos. Embora fossem
frequentes as revoltas populares contra o domínio espanhol, elas esbarraram
sempre na repressão violenta, por parte tanto da Metrópole, quanto da
aristocracia criolla.
Apenas no momento em que se aprofundou
o conflito entre Metrópole e suas colônias, traduzido pelas reivindicações
coloniais de liberdade econômica e autogoverno, foi que os grupos dominantes coloniais
se articularam em torno da emancipação, conduzindo à vitória final, embora com
a participação das camadas populares que integraram os exércitos coloniais.
Não se deve pensar que o bloco
dominante nas colônias fosse homogêneo. Ao contrário, a elite criolla em
algumas zonas era mercantil, como em Havana, Lima e Buenos Aires, com
interesses ligados ao comércio externo; em outras era rural, composta por
grupos de grandes produtores de gêneros tropicais de exportação, como açúcar,
cacau, ou produtores de produtos de autossuficiência e subsistência.
Cuba e Porto Rico permaneceram como
colônias da Espanha até a intervenção dos EUA, em 1898. Em Cuba, o movimento de
independência iniciou-se com o comando do criollo Carlos Manuel Céspedes, em
1865, que libertou seus escravos e criou um exército de libertação com eles. Contudo,
a maioria dos grandes fazendeiros não aderiu à luta, e a luta foi esmagada pelo
governo espanhol, em 1878.
O movimento que promoveu a independência
de Cuba iniciou-se em 1895, sob o comando do criollo José Martí. Os revoltosos
estavam insatisfeitos com a carga tributária excessiva gerada pela manutenção
das tropas espanholas na ilha. Esse movimento teve oposição de outro grupo da
elite cubana, que pretendia incorporar Cuba aos Estados Unidos da América.
Em 1898, tropas dos Estados Unidos
invadiram Cuba e Porto Rico, e declararam guerra à Espanha. Como pretexto da
invasão se utilizaram de um suposto ataque a um navio dos Estados Unidos
enviado a Cuba para proteger os cidadãos estadunidenses que viviam na ilha.
Assim, Porto Rico tornou-se colônia estadunidense, enquanto Cuba tornou-se
território sujeito à intervenção. Em 1901, o Congresso estadunidense aprovou a
Emenda Platt, incluída à Constituição de Cuba, que garantia o direito dos
Estados Unidos intervirem na ilha sempre que seus direitos fossem ameaçados, além
de obrigar Cuba a ceder territórios para instalação de bases militares. As tropas
estadunidenses deixaram Cuba após instalarem a base militar de Guantánamo, que
existe ainda hoje.
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