sábado, 3 de março de 2012

educação e mudança (Paulo Freire)

O tempo histórico apresenta tempos de trânsito em que os valores são substituídos. Todo trânsito é tempo de mudança, no entanto nem toda mudança é trânsito, ele implica numa marcha acelerada rumo a novos temas e tarefas, afetando profundamente a ponto de criar um novo período histórico. (p. 54).
As soluções assistencialistas fazem do sujeito que as recebe objeto e contradizem o processo de democratização fundamental. São antidialogais, impõem ao homem mutismo e passividade e não oferecem condições para conscientização crítica. (p. 65).
O ponto de partida do trânsito é uma sociedade fechada, onde o centro da economia é fora dela, voltada para o mercado externo, exportadora de matéria-prima, predatória, reflexa na economia, reflexa na cultura, portanto alienada, objeto e não sujeito de si mesma, antidialogal, sem vida urbana ou com precária vida urbana, com alarmantes índices de analfabetismo, ainda hoje persistentes, atrasada comandada por uma elite superposta a seu mundo, ao invés de com ele integrada.
O transito se dá na ruptura das forças que mantinham o equilíbrio desta sociedade. As alterações econômicas e os primeiros surtos de industrialização foram os principais fatores de abertura desta sociedade. Porém o golpe de estado de 1964 fez com que o Brasil voltasse ao estágio de sociedade fechada. (p. 57).
A radicalização é positiva porque é crítica; amorosa; humilde; comunicativa; não nega o direito do outro de optar; não pretende impor a sua opção, dialoga sobre ela, convencido de seu acerto, respeita a opção do outro; tenta convencer e converter, e não esmagar seu oponente; tem o dever de reagir à violência dos que lhe pretendam impor silêncio; não se autoflagela; não se acomoda diante do poder exacerbado de alguns que leva à desumanização de todos, inclusive de poderosos, rejeita o ativismo e submete suas ações a reflexão sempre.
O grande mal estava no despreparo do brasileiro para a captação crítica do desafio, descambando assim para a sectarização. E o fanatismo tem matriz preponderantemente emocional e acrítica; é arrogante, antidialogal, reacionário, nada cria porque não ama, não respeita o outro, tenta impor sua opinião ao outro, é inclinado ao ativismo, que é ação sem vigilância da reflexão, daí o gosto pela sloganização que dificilmente ultrapassa a esfera dos mitos, morrendo assim em meias verdades, nutre-se do puramente relativo a que atribui valor absoluto. (p. 58/59).
Esse clima de esperança nasce no momento em que a sociedade volta-se sobre si e descobre-se inacabada e com um sem-número de tarefas a cumprir, desfaz-se do impacto dos sectários e participa ativamente do processo democrático de fato. (p. 63).
A atitude subversiva é essencialmente comandada por apetites, conscientes ou não, de privilégios. Por isso mesmo em nossa sociedade em transição subversivo tanto era o homem comum, emergente, em busca de privilégios, quanto os que queriam manter seu status. (p. 64).





A ingênua se caracteriza pela simplicidade na interpretação de problemas; pela tendência a julgar o tempo; por subestimar o homem comum; pela forte inclinação ao gregarismo; pela impermeabilidade à investigação; pela fragilidade na argumentação; pela prática da polêmica; por explicações mágicas; responde mais abertamente aos estímulos, mas se envolvem em respostas mágicas; distorce e deturpa a dialogação. (p. 69).
A crítica, que é alcançada com educação dialogal e ativa, voltada para a responsabilidade social e política, se caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas; pela substituição de respostas mágicas por princípios causais; por testar os ‘achados’ e se dispor sempre a revisões; por despir-se de preconceitos; por evitar deformações na apreensão; por negar a transferência de responsabilidade; por segurança na argumentação; pela recusa a posições quietistas; pela prática do diálogo  e não da polêmica; pela receptividade ao novo e pela não-recusa ao velho; por se inclinar sempre a arguições. (p. 69/70).

A criticidade fanatizada se caracteriza pela absolutização do ponto de vista; pelo irracionalismo sectário; por tomadas de decisão com cunho emocional; por ações de subversão. Levando esses indivíduos à desumanização. (p. 71).

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