sábado, 28 de setembro de 2013

Análise comparativa Roger Chartier/ Paul Veyne

VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a História
CHARTIER, Roger. A história cultural
A história é uma ciência verificável, portanto falível por natureza, pois ao analisar fontes, o historiador encontra nestas, várias lacunas. A partir deste conceito, a análise de dois autores importantes da historiografia é necessária, Roger Chartier com apresentação de conceitos de apropriação, prática e representação. E Paul Veyne com uma explicação de como se faz história a partir da análise de seus predecessores.
Quanto à análise historiográfica, Paul Veyne apresenta que:
As lacunas das fontes não nos impedem de escrever algo a que se dá o nome de história... O mais curioso é que as lacunas da história fecham-se espontaneamente aos nossos olhos... Devemos abordá-las providos de um questionário elaborado. O historiador pode dedicar dez paginas a um só dia e comprimir dez anos em duas linhas, um século pode passar em branco. O leitor confiará nele e julgará que esses anos são vazios de eventos. (p. 18)
Porém a apresentação diferenciada de eventos e datas pode ser proposital, de acordo com a intenção do historiador ou podem não o ser pela intenção dos autores das fontes utilizadas. Por esta razão, Carlo Guinzburg, na obra Mitos, Emblemas, Sinais sugere, a partir do método Morelli, que o historiador possa efetuar a análise “abarcando os pormenores mais negligenciáveis,” para então poder apresentar uma versão dos eventos mais próxima da ‘verdade.’ Para Veyne: “a verdade histórica não é nem relativa, nem inacessível,” (p. 27) porque “nenhum historiador descreve a totalidade, pois deve escolher o caminho que não pode passar por toda parte. Nenhum desses caminhos é o verdadeiro ou é a história.” (p. 30)
Os conceitos de apropriação e representação são complexos, porém sua compreensão pode ser simplificada, onde apropriação seria uma interpretação que não passa necessariamente por uma racionalidade, a prática é a utilização da “utensilagem mental" da época naquele local, e a representação é a expressão da apropriação, a qual se imputam valores à figura representada.
De acordo com Ronaldo Vainfas em Domínios da História, Chartier propõe “um conceito de cultura enquanto prática, e sugere para o seu estudo as categorias de representação e apropriação.” E continua sua análise alegando: “Representação, segundo Chartier, pensada quer como algo que permite “ver uma coisa ausente”, quer como ‘exibição de uma presença’, e conceito que o autor considera superior ao de mentalidade.”
Vainfas completa sua afirmação acerca de Chartier: “O objetivo da apropriação é ‘uma historia social das interpretações, remetidas para as suas determinações fundamentais’ que, insiste o autor, ‘são sociais, institucionais, culturais.’” Como a apropriação é a interpretação dos eventos, Lawrence Stone em um ensaio à Revista de História afirma que o historiador deve estar ciente dos riscos envolvidos na análise, enquanto usa-se da racionalidade para oferecer uma explicação plausível quanto ao objeto de estudo.poca e do local onde se faz a representaças, analisados de acordo com a mentalidade da
A “utensilagem mental” é o que Michel de Certeau chama de “lugar social”, que José Carlos Reis na obra A História Entre a Filosofia e a Ciência nos explica como: “a organização do pensamento e a ação, os quais existem em uma ‘situação’: um lugar e uma data – um evento. Por isso não é um princípio supra-histórico que organiza o processo efetivo.” Acerca desta teoria do “lugar social” Ciro Flamarion Cardoso em Uma Introdução à História, afirma: “a realidade social é mutável, dinâmica, em todos os seus níveis e aspectos.” Demonstrando a impossibilidade de repetição de cada panorama.
Por conta desta prática do ‘lugar social’ a história se apresenta como a análise de fontes que são a representação de eventos apropriados de diversas formas, analisados de acordo com a mentalidade da época e do local onde se faz a representação que pode ser falseada de acordo com a intencionalidade de seu autor, pois segundo Chartier “as representações são sempre determinadas pelos interesses dos grupos que as forjam” (p. 17). Com isso Veyne nos apresenta que “a história não trata dos eventos, mas daquilo que podemos saber deles.” (p. 18) Sobre isto, Peter Burke no livro A escrita da História mostra que: “a fonte histórica pode ser falseada, assim como a interpretação pode ser falha.”
Veyne apresenta que somente conhecemos as sociedades a partir do que elas escrevem sobre si, onde “cada evento é relatado de formas diferentes pelos diferentes atores e expectadores.” (p. 12) Enquanto, “um acontecimento jamais coincide com o testemunho de seus atores e testemunhas.” (p. 31) Para explicitar melhor, Burke, analisando relatos fotográficos entende que: “assim como os historiadores, os fotógrafos não apresentam reflexos da realidade, mas representações desta.”
De posse desses conceitos, a afirmação de que não se chega a uma verdade absoluta é correta, pois não se tem a verdade, mas versões da verdade, pois cada ator ou expectador se apropria da informação em uma dinâmica diferente, faz uso do equipamento intelectual disponível para sua realidade e representa o fato diferentemente, porque segundo Veyne: “A história não é lógica.” (p. 18) Portanto “há uma pluralidade de interpretações fundamentalmente equivalentes, mesmo que algumas delas possam distinguir-se pela sua fecundidade.” (p.25)

As obras se tornam complementares e auto-explicativas por tratarem da forma como o autor de história usam-se do ‘lugar social’ para fazer representações da sociedade que não necessariamente condizem com a ‘verdade,’ pois além de existirem diversas nuances e ângulos de visão dos eventos, as diversas lacunas presentes nas fontes podem ser utilizadas para que a análise seja manipulada de acordo com interesses que podem ser explícitos ou implícitos de acordo com a apropriação do historiador.
Bibliografia
VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a História: Foucault revoluciona a história. Brasília, 1982: ed. Universidade de Brasília. Tradução: Alda Baltar e Maria Auxiliadora Kneipp.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. São Paulo, 1982: ed. Difel. Tradução: Maria Manuela Galhardo

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

análise do documentário Tropicália


Tropicália
A emissora de televisão BBC de Londres confeccionou um vídeo sobre um movimento musical brasileiro que surgiu e teve seu ápice durante a ditadura militar no Brasil, a tropicália.
A música tem importância crucial para a formação da identidade nacional, protestar, retratar a realidade social, assim como formar imagem positiva aos estrangeiros para que o turismo possa crescer. No Brasil não foi diferente durante as décadas de 1950 a 1980, durante esse período houve nesse país uma ditadura que foi combatida por meio de músicas de protesto.
Dentre os ritmos que foram sucesso, a tropicália se destacou por ser a mistura de outros ritmos, principalmente o rock com ritmos brasileiros. Na televisão brasileira, ainda muito influenciada pelo rádio, até porque a maioria dos programas televisionados era transmitida nas emissoras de rádio simultaneamente, os festivais de música brasileira foram sucesso absoluto.
Nesses referidos festivais foram lançadas inúmeras músicas que obtiveram êxito homérico. Algumas dessas músicas foram censuradas pelo governo militar, pois eram protestos ao regime estabelecido. Encabeçada por Gilberto Gil e Caetano Veloso usava-se muito de metáforas para driblar a censura, porém seus líderes foram detidos e exilados, retornando com a anistia oferecida pelo governo após alguns anos.
A tropicália surgiu em um tempo onde a situação política brasileira necessitava de críticas que pudessem transformar a mentalidade do povo, porém recebeu duras críticas dos maiores interessados em mudanças, os políticos da oposição ao regime, o povo assistiu inerte e se rendeu ao governo, mesmo com algumas minorias buscando direitos políticos, de expressão, liberdade.
Com o fim do regime militar e da censura não há necessidade de se expressar por meio de metáforas contra o governo estabelecido, portanto a necessidade de músicas de protesto como a tropicália não tem espaço na conjuntura atual, abrindo espaço assim para músicas de apelo sexual, incentivo ao crime, ou simplesmente de alienação do povo que infelizmente fica inerte e aceita qualquer coisa que seja legitimada por meios de comunicação de massa.

Sobre comidas e mulheres


Sobre comidas e mulheres
 












Nós brasileiros sempre associamos, até mesmo inconscientemente, acomida a tudo, inclusive às mulheres. Nosso vocabulário é cheio dessas associações como dizer: os homens “comem” as mulheres ao relacionarem-se sexualmente, quando se reclama de algo que lhe garante o sustento é cuspir no prato que comeu, entre outros.
Ao fazer esse tipo de associação não só afastamo-nos de outras culturas, como fazemo-nos únicos, exatamente por misturarmos tudo ao nosso redor, Roberto da Matta fala sobre a relação do cru com o cozido, onde o cru é visto como a brutalidade, o duro, forte, o homem. O cozido é o macio, o de mais fácil digestão, o delicado, a mulher.
Em outras culturas essa relação complexa é mais difícil de compreensão, por não haver tanta relação entre a comida e a vida. A preocupação de outros povos com a comida é de comer para viver, ou às vezes viver para comer, mas relacionar tudo com o que comemos, isso é brasileirismo.
Não há como pensar nessa relação sem pensar no prato típico do nosso Brasil, o arroz com feijão. O branco com preto, o preto no branco, a mistura interessante e intrigante aos outros povos, pois a miscigenação é vista até mesmo no prato nosso de cada dia. Sem essa relação, o cozido, prato popular onde o arroz e o feijão são cozidos juntos, miscigenando-se e tornando-se algo único, não teria razão de existência.
 Mary del Priori nos relata em seu livro Barrocas Famílias que em Minas Gerais, no século XVII os homens iam às minas e quando não encontravam ouro, prata ou outros minérios, tornavam-se gigolôs de suas esposas que viravam prostitutas dos outros garimpeiros que tinham mais sorte.

Concepção Filosófica Aristotélica


Concepção Filosófica Aristotélica
Aristóteles, um dos maiores filósofos da história, foi discípulo de Platão por 19 anos, fundador da escola ateniense Liceu, gostava de lecionar em caminhadas, donde surge o termo escola peripatélica.
Seu pensamento filosófico é uma grande crítica aos pré-socráticos e a seu mestre Platão, buscando superar os pensamentos filosóficos vigentes até então, tendo assim um estilo inconfundível, original, único, donde surge uma nova concepção filosófica.
Aristóteles inicia sua crítica por seu mestre, pela concepção platônica do dualismo, onde existem dois mundos, o real, sensível, e o das ideias, subjetivo. Sua crítica baseia-se em infinitos pontos externos de influência e não apenas a relação externa entre dois pontos. Afirma também que todos os seres, objetos, coisas são compostos por forma e matéria.
Ele elabora também, três distinções adicionais acerca da matéria, são elas: Essência e acidente; Necessidade e contingência e; Ato e potência. Faz a distinção das quatro dimensões da causalidade: Causa formal; Causa material; Causa eficiente e; Causa final.

Matrizes do povo brasileiro


Matrizes do povo brasileiro

O povo brasileiro é fruto de miscigenações inúmeras entre pessoas de principalmente três matrizes, nativo-americana, africana, e europeia, representada principalmente pelos portugueses, colonizadores desta terra.
A matriz nativo-americana é formada por ancestrais de origem indígena, fazendo com que a cultura brasileira incorporasse vários aspectos desta.
A matriz africana é formada por negros da África subsaariana de vários povos, escravizados para a mão de obra na lavoura canavieira.
A matriz europeia é formada pelos colonizadores, portugueses em sua maioria, que a partir da crença cristã católica formou a base da cultura social brasileira.

resenha pedagogia como prática de liberdade


A educação é parte integrante do homem, porque, “não existe sociedade sem educação, nem homem no vazio” (p. 43). E influi diretamente na política, pois é através da conscientização que se faz possível a democracia, porque ela reconhece o despotismo padecido e produz a luta pela libertação. Somente na medida em que se usa mais as funções intelectuais e menos as instintivas e emocionais é que o homem pode integrar-se, pois torna-se flexível e veloz no raciocínio. (p. 53). O aprendizado é uma forma de se tomar consciência da realidade, porque a conscientização é a prática da libertação, e “os alfabetizados são mais exigentes em relação às lideranças populistas.” (p. 31)
O homem crítico existe e não somente vive, pois consegue transcender, discernir, dialogar, comunicar, participar, incorporar, modificar, temporalizar-se, integrar-se, objetivar-se, passar experiência, criar e recriar, que juntos são o sentido da criticidade. Esse existir é a capacidade de contextualizar-se que lhe dá liberdade para a capacidade criadora e educadora. “A partir das relações com a realidade, o homem temporaliza-a, domina-a, humaniza-a, pois é criando, recriando e decidindo que o homem faz as épocas históricas e participa delas.” (p. 51).
Com isto a salvação democrática do país estaria fazendo-o uma sociedade homogeneamente aberta través, principalmente, da universalização da educação como fator preponderante da criticidade. Para tanto é necessária a opção pelo pensamento crítico ante as prescrições e expectativas alheias.“A libertação do homem vem através de uma permanente atitude crítica” (p. 51).
O saber democrático jamais congrega-se autoritariamente, pois somente existe como conquista comum do trabalho do docente e do educando.“É impossível dar aulas de democracia e, ao mesmo tempo considerarmos como absurdo e imoral a participação do povo no poder.” (p. 23).O trabalho do educador deve ser complementado por políticas de organização de massa, para que não sejam manipulados com tanta facilidade.
A conscientização é a grande luta do homem para superar os fatores que o fazem acomodado e ajustado, e não ideologizar ou propor palavras de ordem.Todavia,“toda prática implica em algum perigo de transfiguração de suas ideias originais.” (p. 31).Entretanto,“a conscientização abre caminho às manifestaçõesdas insatisfações sociais, que são os componentes da situação de opressão, significa radicalização política.”(p. 20). Atéporque as “classes populares são radicais, ainda mesmo que não o saibam.” (p. 20).
O tempo histórico apresenta tempos de trânsito em que os valores são substituídos. Todo trânsito é tempo de mudança, no entanto nem toda mudança é trânsito, ele implica numa marcha acelerada rumo a novos temas e tarefas, afetando profundamente a ponto de criar um novo período histórico.
O grande mal estava no despreparo do brasileiro para a captação crítica do desafio, descambando assim para a sectarização. E o fanatismo tem matriz preponderantemente emocional e acrítica; é arrogante, antidialogal, reacionário, nada cria porque não ama, não respeita o outro, tenta impor sua opinião ao outro, é inclinado ao ativismo, que é ação sem vigilância da reflexão, daí o gosto pela sloganização que dificilmente ultrapassa a esfera dos mitos, morrendo assim em meias verdades, nutre-se do puramente relativo a que atribui valor absoluto. (p. 58/59).
Na atualidade brasileira a supremacia vem transplantando respostas e soluções, que fora do contexto, acabamalienando o povo, massificando-o.A responsabilidade e o poder de decisão são execrados no assistencialismo, e assimconstrói-se uma sociedade facilmente manipulável, porque “a massificação e assistencialismo tem relação de causa e efeito,” por isso “a assistência ideal é ajudar o homem a se ajudar.” (p. 65/66).
A resposta seria “uma visão nova de velhos temas que se consubstanciando, nos levariam a uma sociedade crítica, mas a distorção desses poderia levar-nos a uma sociedade de massas onde o homem descritizado seria domesticado por sua acomodação.” (p. 55). A educação deve propiciar a reflexão sobre o próprio poder de refletir dando-lhe instrumentalidade, explicitação de suas potencialidades que decorre da capacidade de opção. “A consciência intransitiva faz com que o homem viva numa órbita vegetativa. Enquanto a transitividade da consciencia permeabiliza o homem, leva-o ao compromisso existencial.” (p. 68).A transitividade crítica é o ideal a se chegar por ser “a matriz da verdadeira democracia,” alcançada com educação dialogal e ativa, voltada para a responsabilidade social e política. (p. 69/70). Enquanto a ingênua aceita tudo sem pestanejar e a fanática absolutiza o seu ponto de vista.
Parecer da resenhista
Esse livro apresenta indicação para estudantes e pesquisadoresna área das licenciaturas e pós-graduação, pois apresenta linguagem clara, sendo útil para a formação e capacitação de professores dedicados à prática da conscientização dos discentes, levando o país assim à verdadeira democracia.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 24. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

Educação no Brasil


Educação no Brasil
A educação brasileira é resultante da fusão de várias ideologias educacionais, tomemos a grega por exemplo.  Os sofistas, filósofos que se preocupavam com a retórica e oratória, eram educadores por profissão, no entanto apenas pessoas abastadas podiam pagar suas aulas, por serem muito caras.
O modelo de ensino sofista é a aprendizagem da oratória e retórica, onde quem vence o debate é a pessoa que convence as outras de seus preceitos e ideologias.
No modelo socrático, a educação é algo que surge do interesse, da busca interior, onde o educador apenas estimula o aluno com a dialética. Sócrates ensinava quem tivesse interesse, e não apenas os ricos como faziam os seus contemporâneos sofistas.
Nisso a educação no Brasil, dividida em pública e privada, herda dos gregos, entre outras coisas, uma diferença de método de ensino e oneração que demonstram as diferenças gritantes na qualidade e no modelo de ensino da sociedade brasileira. Onde quem pode pagar tem um modelo de educação e quem não pode onerar tem uma educação que fica, e muito, a desejar dias melhores.

educação e luta de classes


Voltaire no século XIV anuncia: "Quando o povo começa a pensar, o governante começa a ter problemas.” A educação influencia a política e vice versa, pois a educação apesar de ser apenas reprodutora da discriminação social, pode revelar as brechas sociais, tornando-se um instrumento de revoluções e insurreições para a socialização do conhecimento, assim contribuindo para a evolução humana.
Por esta razão, a educação não serve a uma perspectiva utópica de mudança na estratificação social, de mudança na mentalidade, a educação nos moldes atuais serve para legitimar o regime atual.
A educação é uma forma de popularizar as formas de sobrevivência, as coisas necessárias à vida. O homem difere dos demais animais pela capacidade de criar, conservar e transmitir padrões de comportamento característicos de suas sociedades, ou seja, cultura. Onde se percebe e responde ao meio. Desta forma a cultura se perpetua através da educação.
A divisão da sociedade em classes gera um processo de aculturação por parte dos dominantes. Essa separação origina-se da divisão do trabalho, e por consequência um desenvolvimento social e uma sistematização estável da divisão do trabalho no âmbito do estado ou da educação.
A Revolução Francesa mudou a educação e os pensamentos, acarretando assim uma formação escolar voltada para o mercado que iniciava a exigência de mão de obra qualificada para as máquinas. Com isso iniciou-se a política de educação de massas, não para elevar a classe proletária, mas como um aparelho ideológico da burguesia a serviço de seus interesses.
A escola é um aparelho ideológico, porém deve se fazer também como disseminadora de conhecimentos necessários ao desenvolvimento das ciências. A grande questão levantada é: A educação é, na luta de classes, uma arma de união ou separação? 

ESTUDO DIRIGIDO A História de Homero a Santo Agostinho


ESTUDO DIRIGIDO
A partir da leitura do texto de Cícero (A origem da História, as leis da História e a eloquência do fórum) publicado por François Hartog em A História de Homero a Santo Agostinho (2001: 145-151) diga quais são as principais características da historiografia romana antiga enunciadas por Cícero. Para responder esta pergunta leve em consideração a afirmação de François Hartog (2001: 216, A evidência da História: O que os historiadores veem que diz que:
A história romana é, com efeito em resumo demasiado rápido, uma história sem história (no sentido grego de investigação), sem testemunhas, nem autópsia, tampouco dois lados (Roma está inteiramente em Roma). Ela é concebida com opus oratorium, de acordo Cícero, ou narratio, narrativa literária composta de autores (scriptores), personalidades importantes que, ao julgarem necessário, recorrem a fiadores ou autoridades (auctores).

A história romana foi escrita através de narrações sem que se houvesse investigação.Para ser historiador se deveria apenas falar a verdade, portanto a menor hipótese de uma falácia deveria ser afastada imediatamente.
Apenas o ócio fazia-se necessário à escrita da história em Roma, a leitura de escritos históricos gregos era de grande valia para formar o estilo narrativo das crônicas. Porém as crônicas romanas não se assemelhavam muito com as crônicas gregas, pois as gregas eram escritas por quem realmente esteve nos relatos, enquanto as romanas eram escritas por aristocratas que ao ouvirem a versão romana dos fatos os transcreviam.
Somente era observada a versão vencedora romana, os outros povos sequer eram observados, assim como os aedos e primeiros historiadores gregos faziam. A história romana em um sentido de análise a partir dos gregos foi um retrocesso imenso, pois a história grega teve uma revolução iniciada por Heródoto, a investigação e relato fidedigno do que se via, enquanto os romanos apenas relatavam por escrito o que era relatado oralmente.
Apenas em casos especiais eram buscados os relatos de quem realmente esteve nos fatos escritos, em geral não se fazia uma busca de quem realmente participou do fato.  A história a princípio, teve seus primeiros registros eternizados na confecção de anais. Esses anais tinham por objetivo preservar a memória dos atos oficiaispara dar publicidade aos feitos do imperador.

resenha independência do Brasil segundo Iara Lis Carvalho Souza


Iara Lis C. Souza
A Independência do Brasil
Pátria Coroada - O Brasil como corpo político e autônomo 1780-1831
Iara Lis Franco Schiavinatto Carvalho Souza é doutora em história pela Unicamp e professora da UNESP desde 1988 nas áreas de História Moderna e História Social da Cultura. Participa de congressos, debate, escreve artigos e textos acerca de problemas brasileiros dos oitocentos.
Ambos os livros de mesma autora relatam o período da independência do Brasil, a formação de um corpo político autônomo, baseada na aclamação, algumas vezes a contra gosto, para que o 'mal maior' fosse evitado, onde a anarquia e o exemplo de São Domingos não se repetissem de forma alguma no país. As ideias são repetidas em ambos, pois tratam do mesmo assunto, o contexto da independência.
A emancipação brasileira foi, ora retardada, ora acelerada pela chegada da Corte ao Brasil e sua instalação na cidade do Rio de Janeiro. As obras iluministas de Montesquieu, Rousseau, Mably, Raynal, Benjamim Constant, Burke, Bentham são apresentadas como base do pensamento político que aflorava à época e eram republicados e citados na imprensa, por isso eram lidos e discutidos nas boticas, câmaras, em casa, nos botecos, livrarias, tipografias, lojas maçônicas, reuniões de sociedades secretas.
Outro ponto que merece citação são as revoltas em Portugal e no Brasil, o movimento Gomes Freire de Andrade (1817) e a revolução liberal, conhecida por vintismo (1820), ocorridos em Portugal, que culminaram no retorno do rei a Portugal. No Brasil, houve a revolução pernambucana (1817), onde se declarou a independência e instaurou a república.
O Brasil vinha gozando de privilégios inexistentes anteriormente. “Desde fins do século XVIII, a condição do Brasil dentro do império português foi, paulatinamente alterada.” (p. 12)2 A questão era: Que figura política teria a fortuna de angariar a adesão de mais pessoas e em si significar o território e sua gente? (p. 10)2 A adesão à figura do príncipe como o aglutinador por sua persona. O ápice do livro é o qual D. Pedro é "escolhido" como representante da nação.
 Com a adesão crescente à figura de D. Pedro, a solicitação de retratos do imperador pelas câmaras das diversas vilas espalhadas pelo território nacional. O Estado providenciou e despachou rapidamente os retratos, que deveriam ser recebidos com festa, pois personificava a persona imperial, "sendo um dispositivo da autoridade de D. Pedro." (p. 59)2
O heroísmo do príncipe em afrontar seu pai e 'em nome do poder da nação brasileira', libertar o país do jugo português nocivo aos negócios e crescimento do Brasil, mantendo a unidade e criando a soberania nacional por aglutinar à sua persona as características de um líder libertário e fiel à pátria. "Para os brasileiros a imagem heróica de D. Pedro sobrepuja a do imperador." (p. 17)1
No Brasil escravista, a censura às ideias iluministas era ferrenha, pois os ideais de igualdade e liberdade eram 'perniciosos' aos interesses dos grandes proprietários. A Real Mesa Censória proibia a circulação das obras de pensadores iluministas, entretanto era comum encontrar obras de Montesquieu, Rousseau, Diderot, entre outros entre os pertences de padres, ouvidores, bacharéis e certos negociantes.
O discurso da imprensa foi também um problema para D. João, pois republicavam e citavam os iluministas, e "eram lidos em casa, nos botecos, tavernas, boticas, livrarias, tipografias, academias, reuniões, lojas maçônicas e câmaras." (p. 39)2 A publicação e citação de pensadores iluministas era feita com pseudônimos ou no anonimato. Como o discurso era de que: O poder é do povo e o governo deve ser vinculado a ele e agir com justiça e é inexistente sem uma relação com o povo, porém o povo somente tem poder quando alguma autoridade o governa: o rei. Portanto a autonomia política do povo só existe com o governo e o governo só existe se tiver apoio e representar o povo.
Encontra-se, no início da década de 1820, uma profusão de informações desencontradas, manifestos políticos, atos individuais, sentimentos, ações coletivas, gritos de concordância, espadas desembainhadas, sangue correndo, clamores. Tais palavras e atitudes vão delineando um ser coletivo, o Brasil. (p. 9)2
No Brasil escravista, a censura às ideias iluministas era ferrenha, pois os ideais de igualdade e liberdade eram 'perniciosos' aos interesses dos grandes proprietários.  Após a independência, por conta da falta de acesso rápido à informação, "havia escravos que acreditavam que a abolição ocorrera ou estava prestes a ocorrer." (p. 120)1
O movimento Gomes Freire de Andrade não foi o arregimentador ou seu iniciador, porém participou com liderança no movimento por ser veterano de guerra, de família importante e maçom altamente graduado. Controlou o movimento com sua experiência em combate e com seu insucesso fora enforcado. "Os rebeldes procuravam repor, através da monarquia constitucional, a ordem anterior, de um tempo de outrora, em que o rei era querido e justo, em que o interesse do súdito era atendido, daí a intenção de criar um Conselho Regenerador." (p. 65)1
O movimento separatista em Pernambuco teve adesão da Paraíba e Rio Grande do Norte, autodenominado revolução tinha por objetivo eliminar a interferência dos comerciais portugueses na venda de algodão, cana de açúcar e outros produtos para a Inglaterra. Deste movimento surgiu uma bandeira, com um fundo azul, o sol e um arco íris com três estrelas representando as províncias rebeldes.
O discurso que inflamava o movimento era de cunho religioso, onde o Satanás enganaria o povo através de um rei que nunca fora eleito. E para conseguir alcançar seus objetivos pregavam "disciplina e união: a disciplina é origem dos grandes feitos; a união é a fonte de todos os bens, o veículo exclusivo da força dos Estados." (p. 73)1
Em 1820, outro movimento nascia em Portugal, mais precisamente no Porto, os intitulados vintistas, que buscava novamente a convocação das cortes para o estabelecimento de uma monarquia constitucional. A tropa mais uma vez tinha seu lugar destacado, para evitar tumultos populares e a tão temida anarquia. Estabeleceram um governo provisório, pondo fim ao governo regencial no dia 15 de setembro, data da comemoração da libertação dos franceses, rapidamente em 1 de outubro a Junta assegurava ao rei a garantia do seu mando e em 6 de outubro os grandes do reino juraram obediência ao rei e suas cortes.
O movimento vintista foi tão importante que acabou culminando no retorno de D. João a Portugal. As revoltas em busca de uma monarquia constitucional tornaram emergentes a ideia de que o poder é emaranhado à nação, procuravam submeter o rei às ideias do contrato social de Rousseau, e assim evitar o despotismo.
Com o retorno do rei a Portugal, houve uma reordenação da autoridade pública que alterou o sistema de arrecadação, e tornou a enviar receitas a Portugal. A decisão de D. Pedro de ficar no Brasil não era bem vista pela elite brasileira, porém entre junho e agosto a aceitação cresceu mediante a limitação de autoridade ditada pelas cortes.
No Rio de Janeiro entre fins de 1820 e início de 1821, burocratas portugueses, e o grupo de atacadistas fluminenses e grandes proprietários disputam influencia política. Tinham a intenção de fazer a divisão do poder em três, onde os aristocratas atuariam no legislativo. Para criação de leis, pois acreditavam na necessidade de uma constituição e defendiam a utilização da constituição espanhola até se fazer uma constituição nacional.
Ambos os grupos apoiavam a independência, porque D. João assina decretos onde D. Pedro partiria para Portugal e organizaria o poder. As cortes em Portugal deliberavam sobre a autoridade real, limitando-a e promovendo uma viragem na noção de soberania. Contudo existia a corrente constitucional, cujo lema era constituição de Portugal ou morte, buscando o reconhecimento do legislativo.
Desde o início de 1821, houve a organização de diversos governos com certa autonomia em relação ao Rio de Janeiro, sua grande maioria foi nas regiões Norte e Nordeste, onde havia uma dificuldade logística, pois a distância do poder central e a falta de agilidade no trâmite de ordens superiores ou até mesmo pela falta de uma presença mais forte do poder imperial favorecia essas incursões.
No entanto foram todos abafados por tropas de Cochrane e Labatut que obrigava que a aclamação a D. Pedro fosse feita publicamente para que se visse a adesão à causa do Brasil e houvesse a manutenção da riqueza dos portugueses, caso contrário sofreria confisco e ficariam a mercê do exílio.
O uso das tropas era uma prefiguração da noção de povo em armas adensando o grito da independência. Marchavam sob ordens e tinham em D. Pedro seu comandante-em-chefe. Com isso, em cada localidade o imperador estabelecia um elo com a população.
Escravos pegaram em armas; homens livres pobres e soldados das tropas deram vivas a D. Pedro. Muita gente viu na Independência a chance de melhorar sua vida, indagando pelos direitos que os debates suscitavam. Portugueses interessados em manter negócios com o Brasil foram a favor da Independência e declararam sua fidelidade ao país. Em contrapartida, brasileiros simpáticos à manutenção dos elos entre Brasil e Portugal para lá migraram. A desagregação do mundo colonial se estende pelo início do século XIX com a reformulação do papel das câmaras, a criação da Guarda Nacional e o fim das tropas e milícias, além de tentativas de várias províncias de proclamar a República e se tornar independentes do próprio Brasil. (p. 11)2
Os conceitos de apropriação e representação de Chartier são bem explicados com o exemplo da independência do Brasil. O quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, com D. Pedro empunhando uma espada, montado num cavalo entoando o grito que soa por todo império, enquanto a passagem pelo Ipiranga foi realizada no lombo de um burro. Para ilustrar e personificar a obra da independência, grandes artistas como Debret e Grandjean de Montigny foram patrocinados para retratar a grandeza e poder da monarquia no Brasil.
As festas de aclamação davam impressão de que todos os participantes concordavam com a autoridade real. Retratos do rei circulavam por todo império. Era fundamental que os signos e sentidos da realeza circulassem pelo tecido social, fossem comunicados e apreendidos através de festas oficiais e da realeza onde a maior parte da população assistisse e participasse. "Havia uma preocupação em vigiar e controlar a presença e circulação escrava e dos livres pobres e forros, assegurando que trabalhassem e não suscitassem a desordem social. (p. 54)1
A movimentação política deixou a negociação palaciana e infiltrou-se pelas ruas. D. Pedro assumia o papel de domador da cena pública, o governante do povo. O Revérbero Constitucional que não tinha afeição ao príncipe, a princípio, foi tornando-se simpático a ele. D. Pedro alia-se às elites pelo uso de sua figura, torna-se a melhor opção para ocupar o espaço público e encerrar em si a capacidade de representar a soberania, entrelaçando-se a ela, com isso é visto como um instrumento da vontade geral, o político capaz de resolver conflitos.
Durante a década de 1820 a figura do imperador foi perdendo credibilidade e com a derrota na guerra da Cisplatina, o desgaste foi inevitável, as festas para aclamação real não tinham mais sentido, pois acabavam em pancadaria. A credibilidade do imperador não era a mesma, ao passo que houve festas em nome da abdicação, celebrando o Império em detrimento do imperador. Com esse contexto, D. Pedro foi descartado, tendo de abdicar do trono e seguir para Portugal.
Bibliografia
SOUZA, Iara Lis C. Pátria Coroada: O Brasil como corpo político autônomo -- 1780-1831. São Paulo: Fundação Editora UNESP, 1999. Coleção prismas
SOUZA, Iara Lis C. A Independência do Brasil. Rio de Janeir

Análise de documentos Declaração de independência dos Estados Unidos da América do Norte


Análise de documentos
Um ex-escravo fala sobre a independência dos Estados Unidos
Declaração de independência dos Estados Unidos da América do Norte (4 de julho de 1776)
A declaração de independência, escrita por Jefferson, é um documento que expressa uma revolta para com a Inglaterra, que enrijecia suas cobranças às suas colônias na América, principalmente as 13 colônias, que chegavam a fazer concorrência aos produtos metropolitanos. A cobrança inglesa gerou revolta da população norte-americana, que tinha os mesmos direitos dos ingleses, e se via assim.
Com o fim da guerra dos sete anos, a busca por novas receitas fez a Inglaterra cobrar das 13 colônias impostos que inexistiam até então. A imposição de tributos, aliado ao nível de estudo dos colonos e seu conhecimento das idéias de alguns pensadores ingleses, os fez levantar-se contra a Coroa, buscando representatividade para justificar as cobranças. A elite colonial liderada por George Washington foi a busca de seus direitos, para fazer valer suas vontades em detrimento do sistema implantado.
O depoimento do ex-escravo, é datado de cerca de 100 anos depois, analisando a data de 4 de julho, onde há um desapontamento muito grande acerca da 'zombaria' que é expressa a partir de uma busca de 'liberdade hipócrita', visto que os escravos continuam escravos após a independência. Durante o depoimento é declarada uma falha já no primeiro artigo da declaração, onde diz: "que todos os homens nascem iguais."
O descontentamento desse negro é altamente explicado a partir da leitura do segundo artigo onde é declarado que o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade são direitos inalienáveis, porém como alguém que pertence a outra pessoa pode dizer que tem direito à vida? Sua vida nem mesmo lhe pertence, o direito à vida do escravo pertence ao seu senhor.
A partir da análise dos textos fica visível que a independência foi um movimento elitista, branco, feito pela elite, para a elite, usando o povo como massa de manobra. Pois os reflexos perduram mesmo passados mais de 200 anos com a segregação e a marginalização dos negros e os poucos nativos americanos que restaram d

economia colonial da América Portuguesa

Com base nos textos de Ciro Flamarion Cardoso, Fernando Novais e João Fragoso, discuta as interpretações e debates acerca da “economia colonial” da América Portuguesa.
Segundo Fernando Novais, o Antigo Sistema Colonial era uma conjuntura contradizente que levou-se à estagnação, onde as áreas coloniais não podiam auto estimular-se, dependiam dos impulsos da metrópole.  O estudo aponta os latifúndios exportadores como autossuficientes. O “exclusivo colonial” é a ideia mais interessante a ser levada em consideração nesse trabalho, segundo a qual a metrópole vende produtos europeus ao maior preço possível, mas não tão alto a ponto de serem inacessíveis e comprar os produtos coloniais ao menor preço, porém não tão baixos que impedissem a continuidade das atividades produtivas. A ideia de Antigo Sistema Colonial se baseia em acumular primitivamente capital durante o período mercantilista para o desenvolvimento do capitalismo, e com isso gerar um sentido para a colonização.
Para Ciro F. S. Cardoso, a ideia de Antigo Sistema Colonial de Fernando Novais é uma teoria generalizante e equivocada por faltar bases bibliográficas, portanto evasiva. Em sua proposta é necessário o estudo de caso para teorizar cada caso porque não faz-se possível reduzir macroestruturas coloniais em teorias generalizantes. Devem ser estudadas as formas livres de trabalho. O sistema capitalista não existia ainda durante o período colonial, pois a mão de obra escrava não caracteriza o capitalismo e sim um modo de produção escravista colonial. A extração de excedente não deve ser a única preocupação do historiador, e sim as estruturas internas das colônias em si mesmas na sua maneira de funcionar para que o quadro seja satisfatório, ou seja, completo.
Para João Fragoso, a produção colonial voltada para o comércio interno, que foi pormenorizada em trabalhos anteriores, foi extremamente importante para o rompimento com o sistema colonial. A acumulação primitiva não ocorria, pois os portugueses não tinham uma visão capitalista e sim de ostentação, para obterem status e manterem-no. A mentalidade portuguesa estava intrinsecamente ligada ao feudalismo e à manutenção da nobreza de parte da população e para a ascensão dos mercadores a esse estamento social. O estudo foi baseado no caso fluminense entre 1790 e 1830, em que são estudadas as relações comerciais coloniais internas, e o setor de abastecimento interno com natureza não escravista e não mercantil independente das flutuações de preços externas.
Referências
CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. Modos de produção e realidade brasileira. Petrópolis: Vozes, 1980.
FRAGOSO, João. Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1998.
NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial, 1777-1808. São Paulo: Hucitec, 1979.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

apropriação, prática e representação



A história é uma ciência verificável, portanto falível por natureza, pois ao analisar fontes, o historiador encontra nestas várias lacunas. A partir deste conceito, a análise de dois autores importantes da historiografia é necessária, Roger Chartier com apresentação de conceitos de apropriação, prática e representação. E Paul Veyne com uma explicação de como se faz história a partir da análise de seus predecessores.
Quanto à análise historiográfica, Paul Veyne apresenta que:
As lacunas das fontes não nos impedem de escrever algo a que se dá o nome de história... O mais curioso é que as lacunas da história fecham-se espontaneamente aos nossos olhos... devemos abordá-las providos de um questionário elaborado. O historiador pode dedicar dez paginas a um só dia e comprimir dez anos em duas linhas, um século pode passar em branco. O leitor confiará nele e julgará que esses anos são vazios de eventos. (p. 18)
Porém a apresentação diferenciada de eventos e datas pode ser proposital, de acordo com a intenção do historiador ou podem não o ser pela intenção dos autores das fontes utilizadas. Por esta razão, Carlo Guinzburg, na obra Mitos, Emblemas, Sinais sugere, a partir do método Morelli, que o historiador possa efetuar a análise “abarcando os pormenores mais negligenciáveis,” para então poder apresentar uma versão dos eventos mais próxima da ‘verdade.’ Para Veyne: “a verdade histórica não é nem relativa, nem inacessível,” (p. 27) porque “nenhum historiador descreve a totalidade, pois deve escolher o caminho que não pode passar por toda parte. Nenhum desses caminhos é o verdadeiro ou é a história.” (p. 30)
Os conceitos de apropriação e representação são complexos, porém sua compreensão pode ser simplificada, onde apropriação seria uma interpretação que não passa necessariamente por uma racionalidade, a prática é a utilização da “utensilagem mental" da época naquele local, e a representação é a expressão da apropriação, a qual se imputam valores à figura representada.
De acordo com Ronaldo Vainfas em Domínios da História, Chartier propõe “um conceito de cultura enquanto prática, e sugere para o seu estudo as categorias de representação e apropriação.” E continua sua análise alegando: “Representação, segundo Chartier, pensada quer como algo que permite “ver uma coisa ausente”, quer como ‘exibição de uma presença’, e conceito que o autor considera superior ao de mentalidade.”
Vainfas completa sua afirmação acerca de Chartier: “O objetivo da apropriação é ‘uma historia social das interpretações, remetidas para as suas determinações fundamentais’ que, insiste o autor, ‘são sociais, institucionais, culturais.’” Como a apropriação é a interpretação dos eventos, Lawrence Stone em um ensaio à Revista de História afirma que o historiador deve estar ciente dos riscos envolvidos na análise, enquanto usa-se da racionalidade para oferecer uma explicação plausível quanto ao objeto de estudo.poca e do local onde se faz a representaças, analisados de acordo com a mentalidade da
A “utensilagem mental” é o que Michel de Certeau chama de “lugar social”, que José Carlos Reis na obra A História Entre a Filosofia e a Ciência nos explica como: “a organização do pensamento e a ação, os quais existem em uma ‘situação’: um lugar e uma data – um evento. Por isso não é um princípio supra-histórico que organiza o processo efetivo.” Acerca desta teoria do “lugar social” Ciro Flamarion Cardoso em Uma Introdução à História, afirma: “a realidade social é mutável, dinâmica, em todos os seus níveis e aspectos.” Demonstrando a impossibilidade de repetição de cada panorama.
Por conta desta prática do ‘lugar social’ a história se apresenta como a análise de fontes que são a representação de eventos apropriados de diversas formas, analisados de acordo com a mentalidade da época e do local onde se faz a representação que pode ser falseada de acordo com a intencionalidade de seu autor, pois segundo Chartier “as representações são sempre determinadas pelos interesses dos grupos que as forjam” (p. 17). Com isso Veyne nos apresenta que “a história não trata dos eventos, mas daquilo que podemos saber deles.” (p. 18) Sobre isto, Peter Burke no livro A escrita da História mostra que: “a fonte histórica pode ser falseada, assim como a interpretação pode ser falha.”
Veyne apresenta que somente conhecemos as sociedades a partir do que elas escrevem sobre si, onde “cada evento é relatado de formas diferentes pelos diferentes atores e expectadores.” (p. 12) Enquanto, “um acontecimento jamais coincide com o testemunho de seus atores e testemunhas.” (p. 31) Para explicitar melhor, Burke, analisando relatos fotográficos entende que: “assim como os historiadores, os fotógrafos não apresentam reflexos da realidade, mas representações desta.”
De posse desses conceitos, a afirmação de que não se chega a uma verdade absoluta é correta, pois não se tem a verdade, mas versões da verdade, pois cada ator ou expectador se apropria da informação em uma dinâmica diferente, faz uso do equipamento intelectual disponível para sua realidade e representa o fato diferentemente, porque segundo Veyne: “A história não é lógica.” (p. 18) Portanto “há uma pluralidade de interpretações fundamentalmente equivalentes, mesmo que algumas delas possam distinguir-se pela sua fecundidade.” (p.25)
As obras se tornam complementares e auto-explicativas por tratarem da forma como o autor de história usam-se do ‘lugar social’ para fazer representações da sociedade que não necessariamente condizem com a ‘verdade,’ pois além de existirem diversas nuances e ângulos de visão dos eventos, as diversas lacunas presentes nas fontes podem ser utilizadas para que a análise seja manipulada de acordo com interesses que podem ser explícitos ou implícitos de acordo com a apropriação do historiador.
Bibliografia
VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a História: Foucault revoluciona a história. Brasília, 1982: ed. Universidade de Brasília. Tradução: Alda Baltar e Maria Auxiliadora Kneipp.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. São Paulo, 1982: ed. Difel. Tradução: Maria Manuela Galhardo

segunda-feira, 5 de agosto de 2013


VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a História: Foucault revoluciona a história. Brasília, 1982: ed. Universidade de Brasília. Tradução: Alda Baltar e Maria Auxiliadora Kneipp.
A história não é uma ciência e não tem muito a esperar das ciências; ela não explica e não tem método; melhor ainda, a historia, da qual muito se tem falado nesses dois últimos séculos, não existe. A história narra um romance real. (p.7-8)
Os eventos são humanos, os fenômenos são naturais. A história é uma narrativa de eventos. (p. 11)
Cada evento é relatado de formas diferentes pelos diferentes atores e expectadores. (p. 12)
Em nenhum caso, os eventos são apreendidos de maneira completa e direta, mas sempre por documentos e testemunhos, ou seja, por indícios. (p. 12)
A narração histórica situa-se para além de todos os documentos, pois nenhum deles pode ser o evento em si. (p. 12)
A história é filha da memória. (p.12)
No estudo de uma civilização, nos limitamos a ler o que ela mesma escreve sobre si. (p.12)
Para o historiador, mesmo que um evento se repita exatamente como ocorreu, se forem dois é o que importa, pois mesmo que ocorram repetidamente, os fatos nunca serão os mesmos (p 14)
A história permite-se ser enfadonha sem, por isso, desvalorizar-se. (p. 15)
O mais importante da análise é a verdade. (p. 15)
A história é um conjunto descontínuo, formado por domínios, cada um deles definidos pela freqüência própria. (p. 17)
Não é possível se chegar a uma história total, pois na análise se ganha de um lado perdendo de outro. (p. 17)
A história não trata dos eventos, mas daquilo que podemos saber deles. (p. 18)
A história não é lógica. (p. 18)
As lacunas das fontes não nos impedem de escrever algo a que se dá o nome de história... O mais curioso é que as lacunas da história fecham-se espontaneamente aos nossos olhos... devemos aborda-las providos de um questionário elaborado. O historiador pode dedicar dez paginas a um só dia e comprimir dez anos em duas linhas, um século pode passar em branco. O leitor confiará nele e julgará que esses anos são vazios de eventos. (p. 18)
A história não possui articulação natural. (p. 19)
A história não passa de uma pequena clareira no meio de uma imensa floresta. (p. 19)
Quanto mais se alarga o horizonte factual, mais ele parece indefinido. (p. 21)
Qualquer fato do dia a dia é indício de algum evento. (p. 21)
Cada época tem sua maneira de ver as coisas e a experiência profissional prova que a descrição dessas visões ofereceria ao pesquisador matéria suficientemente rica e sutil. (p. 22)
A História não existe, existem histórias de... (p. 23)
Há uma pluralidade de interpretações fundamentalmente equivalentes, mesmo que algumas delas possam distinguir-se pela sua fecundidade. (p.25)
É impossível fixar uma escala de importância que não seja subjetiva. (p. 25)
Os fatos têm uma organização natural que o historiador encontra pronta; o esforço do trabalho histórico consiste, justamente, em reencontrar essa organização. Dentro do assunto escolhido, essa organização dos fatos lhes atribui uma importância relativa. (p. 27)
Os fatos não existem isoladamente, mas tem ligações objetivas. (p. 27)
A verdade histórica não é nem relativa, nem inacessível. (p. 27)
A trama não se organiza, necessariamente, numa seqüência cronológica. (p.28)
Uma trama não é um determinismo, os detalhes tomam a importância relativa que exige o seu bom andamento. (p. 28)
O fato nada é sem sua trama. (p.28)
Em história é impossível mostrar tudo porque não existe fato histórico elementar nem partículas factuais. (p. 29)
A mesma situação espaço-temporal pode conter certo número de objetos diferentes de estudo. (p. 29)
Nenhum historiador descreve a totalidade, pois deve escolher o caminho que não pode passar por toda parte. Nenhum desses caminhos é o verdadeiro ou é a história. (p. 30)
 Um acontecimento jamais coincide com o testemunho de seus atores e testemunhas. (p. 31)
Os acontecimentos não são totalidades, mas núcleos de relações. (p. 32)
Já que tudo é história, a história será aquilo que escolhermos. (p. 33)
As escolhas constituem a história em suas fronteiras. Há relação de valores, julgamentos de valor. (p. 36)
A história se propõe a narrar as civilizações do passado e não salvar a memória dos indivíduos, ela não é uma coleção de biografias. Ela não se ocupa dos indivíduos, mas daquilo que oferecem de específico. (p.39)
É histórico tudo o que for específico, inteligível, exceto a singularidade que faz com que os indivíduos existam um por um. Uma vez afirmada a existência singular, tudo o que se pode dizer de um individuo possui uma espécie de generalidade. (p. 39)
Tudo é história, exceto o que ainda não se entendeu o porque. (p. 40)
O historiador leva à história um interesse particular. (p. 43)
A história é um domínio onde não pode haver intuição. (p. 43)
A história é a organização, por meio da inteligência, de dados que se referem a uma temporalidade. (p. 44)
A história não diz respeito ao homem em seu ser intimo e nem confunde o sentimento que tem de si próprio. (p. 44)
Em história explicar é explicitar. (p. 54)
A história necessita da compreensão para existir. (p. 61)
O ser e a identidade só existem por abstração. Já que a história só quer conhecer o concreto, não é possível satisfazer completamente essa pretensão, porém teremos feito muito se decidirmos jamais falar de religião ou revolução, a fim de que o mundo da história seja povoado exclusivamente de acontecimentos únicos e jamais de objetos uniformes. (p. 70)
Toda proposição histórica deve ser acompanhada de uma historicização prévia. A história não se escreve sobre uma pagina em branco, a historiografia é uma luta incessante contra nossa tendência ao contrassenso anacrônico. (p. 71)
Todos os seres históricos, sem exceção, mudam num mundo que muda e cada ser pode fazer mudar os outros e reciprocamente, pois o concreto é transformação e interação. (p. 72)
O modo de explicar a história é fazer entender. O historiador somente tem acesso a uma porção ínfima do concreto, a que lhe chega pelos documentos de que se pode dispor; para todo resto ele precisa tapar os buracos. (p. 73)
Os fatos têm causas, as causas nem sempre tem conseqüências. (p. 74)
As inferências tropeçam nos dados dos documentos, mas se as inferências não vão até o infinito, pelo menos elas vão muito longe. (p. 78)
A História é uma arte que supõe a aprendizagem de uma experiência. E é cheia de idéias gerais e regularidades aproximativas. (p. 80)
Não se deve crer que episódios se explicam por uma ou várias leis e pelo precedente. O sistema não é isolado e a cada momento são acrescidos ou retirados elementos que tornam impossíveis quaisquer formas de previsão da cadeia histórica. (p. 81)
Se uma relação causal pode ser repetida, nunca se pode afirmar quando e em quais condições ela se repetirá. (p. 82) Provavelmente o efeito será diverso ao original, pois o precedente trará experiências que serão, ou não, evitadas. Evita-se assim uma repetição cíclica da história.
A causalidade é relativa para quem analisa os fatos, cada análise pode oferecer uma causa negligenciada, ou simplesmente ignorada ou desconhecida pelo outro analisador. (p. 86-7)
A história pode analisar um problema tanto a partir das causas, quanto a partir do problema para se encontrar as causas.  (p 88-9)