sexta-feira, 23 de agosto de 2013

resenha independência do Brasil segundo Iara Lis Carvalho Souza


Iara Lis C. Souza
A Independência do Brasil
Pátria Coroada - O Brasil como corpo político e autônomo 1780-1831
Iara Lis Franco Schiavinatto Carvalho Souza é doutora em história pela Unicamp e professora da UNESP desde 1988 nas áreas de História Moderna e História Social da Cultura. Participa de congressos, debate, escreve artigos e textos acerca de problemas brasileiros dos oitocentos.
Ambos os livros de mesma autora relatam o período da independência do Brasil, a formação de um corpo político autônomo, baseada na aclamação, algumas vezes a contra gosto, para que o 'mal maior' fosse evitado, onde a anarquia e o exemplo de São Domingos não se repetissem de forma alguma no país. As ideias são repetidas em ambos, pois tratam do mesmo assunto, o contexto da independência.
A emancipação brasileira foi, ora retardada, ora acelerada pela chegada da Corte ao Brasil e sua instalação na cidade do Rio de Janeiro. As obras iluministas de Montesquieu, Rousseau, Mably, Raynal, Benjamim Constant, Burke, Bentham são apresentadas como base do pensamento político que aflorava à época e eram republicados e citados na imprensa, por isso eram lidos e discutidos nas boticas, câmaras, em casa, nos botecos, livrarias, tipografias, lojas maçônicas, reuniões de sociedades secretas.
Outro ponto que merece citação são as revoltas em Portugal e no Brasil, o movimento Gomes Freire de Andrade (1817) e a revolução liberal, conhecida por vintismo (1820), ocorridos em Portugal, que culminaram no retorno do rei a Portugal. No Brasil, houve a revolução pernambucana (1817), onde se declarou a independência e instaurou a república.
O Brasil vinha gozando de privilégios inexistentes anteriormente. “Desde fins do século XVIII, a condição do Brasil dentro do império português foi, paulatinamente alterada.” (p. 12)2 A questão era: Que figura política teria a fortuna de angariar a adesão de mais pessoas e em si significar o território e sua gente? (p. 10)2 A adesão à figura do príncipe como o aglutinador por sua persona. O ápice do livro é o qual D. Pedro é "escolhido" como representante da nação.
 Com a adesão crescente à figura de D. Pedro, a solicitação de retratos do imperador pelas câmaras das diversas vilas espalhadas pelo território nacional. O Estado providenciou e despachou rapidamente os retratos, que deveriam ser recebidos com festa, pois personificava a persona imperial, "sendo um dispositivo da autoridade de D. Pedro." (p. 59)2
O heroísmo do príncipe em afrontar seu pai e 'em nome do poder da nação brasileira', libertar o país do jugo português nocivo aos negócios e crescimento do Brasil, mantendo a unidade e criando a soberania nacional por aglutinar à sua persona as características de um líder libertário e fiel à pátria. "Para os brasileiros a imagem heróica de D. Pedro sobrepuja a do imperador." (p. 17)1
No Brasil escravista, a censura às ideias iluministas era ferrenha, pois os ideais de igualdade e liberdade eram 'perniciosos' aos interesses dos grandes proprietários. A Real Mesa Censória proibia a circulação das obras de pensadores iluministas, entretanto era comum encontrar obras de Montesquieu, Rousseau, Diderot, entre outros entre os pertences de padres, ouvidores, bacharéis e certos negociantes.
O discurso da imprensa foi também um problema para D. João, pois republicavam e citavam os iluministas, e "eram lidos em casa, nos botecos, tavernas, boticas, livrarias, tipografias, academias, reuniões, lojas maçônicas e câmaras." (p. 39)2 A publicação e citação de pensadores iluministas era feita com pseudônimos ou no anonimato. Como o discurso era de que: O poder é do povo e o governo deve ser vinculado a ele e agir com justiça e é inexistente sem uma relação com o povo, porém o povo somente tem poder quando alguma autoridade o governa: o rei. Portanto a autonomia política do povo só existe com o governo e o governo só existe se tiver apoio e representar o povo.
Encontra-se, no início da década de 1820, uma profusão de informações desencontradas, manifestos políticos, atos individuais, sentimentos, ações coletivas, gritos de concordância, espadas desembainhadas, sangue correndo, clamores. Tais palavras e atitudes vão delineando um ser coletivo, o Brasil. (p. 9)2
No Brasil escravista, a censura às ideias iluministas era ferrenha, pois os ideais de igualdade e liberdade eram 'perniciosos' aos interesses dos grandes proprietários.  Após a independência, por conta da falta de acesso rápido à informação, "havia escravos que acreditavam que a abolição ocorrera ou estava prestes a ocorrer." (p. 120)1
O movimento Gomes Freire de Andrade não foi o arregimentador ou seu iniciador, porém participou com liderança no movimento por ser veterano de guerra, de família importante e maçom altamente graduado. Controlou o movimento com sua experiência em combate e com seu insucesso fora enforcado. "Os rebeldes procuravam repor, através da monarquia constitucional, a ordem anterior, de um tempo de outrora, em que o rei era querido e justo, em que o interesse do súdito era atendido, daí a intenção de criar um Conselho Regenerador." (p. 65)1
O movimento separatista em Pernambuco teve adesão da Paraíba e Rio Grande do Norte, autodenominado revolução tinha por objetivo eliminar a interferência dos comerciais portugueses na venda de algodão, cana de açúcar e outros produtos para a Inglaterra. Deste movimento surgiu uma bandeira, com um fundo azul, o sol e um arco íris com três estrelas representando as províncias rebeldes.
O discurso que inflamava o movimento era de cunho religioso, onde o Satanás enganaria o povo através de um rei que nunca fora eleito. E para conseguir alcançar seus objetivos pregavam "disciplina e união: a disciplina é origem dos grandes feitos; a união é a fonte de todos os bens, o veículo exclusivo da força dos Estados." (p. 73)1
Em 1820, outro movimento nascia em Portugal, mais precisamente no Porto, os intitulados vintistas, que buscava novamente a convocação das cortes para o estabelecimento de uma monarquia constitucional. A tropa mais uma vez tinha seu lugar destacado, para evitar tumultos populares e a tão temida anarquia. Estabeleceram um governo provisório, pondo fim ao governo regencial no dia 15 de setembro, data da comemoração da libertação dos franceses, rapidamente em 1 de outubro a Junta assegurava ao rei a garantia do seu mando e em 6 de outubro os grandes do reino juraram obediência ao rei e suas cortes.
O movimento vintista foi tão importante que acabou culminando no retorno de D. João a Portugal. As revoltas em busca de uma monarquia constitucional tornaram emergentes a ideia de que o poder é emaranhado à nação, procuravam submeter o rei às ideias do contrato social de Rousseau, e assim evitar o despotismo.
Com o retorno do rei a Portugal, houve uma reordenação da autoridade pública que alterou o sistema de arrecadação, e tornou a enviar receitas a Portugal. A decisão de D. Pedro de ficar no Brasil não era bem vista pela elite brasileira, porém entre junho e agosto a aceitação cresceu mediante a limitação de autoridade ditada pelas cortes.
No Rio de Janeiro entre fins de 1820 e início de 1821, burocratas portugueses, e o grupo de atacadistas fluminenses e grandes proprietários disputam influencia política. Tinham a intenção de fazer a divisão do poder em três, onde os aristocratas atuariam no legislativo. Para criação de leis, pois acreditavam na necessidade de uma constituição e defendiam a utilização da constituição espanhola até se fazer uma constituição nacional.
Ambos os grupos apoiavam a independência, porque D. João assina decretos onde D. Pedro partiria para Portugal e organizaria o poder. As cortes em Portugal deliberavam sobre a autoridade real, limitando-a e promovendo uma viragem na noção de soberania. Contudo existia a corrente constitucional, cujo lema era constituição de Portugal ou morte, buscando o reconhecimento do legislativo.
Desde o início de 1821, houve a organização de diversos governos com certa autonomia em relação ao Rio de Janeiro, sua grande maioria foi nas regiões Norte e Nordeste, onde havia uma dificuldade logística, pois a distância do poder central e a falta de agilidade no trâmite de ordens superiores ou até mesmo pela falta de uma presença mais forte do poder imperial favorecia essas incursões.
No entanto foram todos abafados por tropas de Cochrane e Labatut que obrigava que a aclamação a D. Pedro fosse feita publicamente para que se visse a adesão à causa do Brasil e houvesse a manutenção da riqueza dos portugueses, caso contrário sofreria confisco e ficariam a mercê do exílio.
O uso das tropas era uma prefiguração da noção de povo em armas adensando o grito da independência. Marchavam sob ordens e tinham em D. Pedro seu comandante-em-chefe. Com isso, em cada localidade o imperador estabelecia um elo com a população.
Escravos pegaram em armas; homens livres pobres e soldados das tropas deram vivas a D. Pedro. Muita gente viu na Independência a chance de melhorar sua vida, indagando pelos direitos que os debates suscitavam. Portugueses interessados em manter negócios com o Brasil foram a favor da Independência e declararam sua fidelidade ao país. Em contrapartida, brasileiros simpáticos à manutenção dos elos entre Brasil e Portugal para lá migraram. A desagregação do mundo colonial se estende pelo início do século XIX com a reformulação do papel das câmaras, a criação da Guarda Nacional e o fim das tropas e milícias, além de tentativas de várias províncias de proclamar a República e se tornar independentes do próprio Brasil. (p. 11)2
Os conceitos de apropriação e representação de Chartier são bem explicados com o exemplo da independência do Brasil. O quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, com D. Pedro empunhando uma espada, montado num cavalo entoando o grito que soa por todo império, enquanto a passagem pelo Ipiranga foi realizada no lombo de um burro. Para ilustrar e personificar a obra da independência, grandes artistas como Debret e Grandjean de Montigny foram patrocinados para retratar a grandeza e poder da monarquia no Brasil.
As festas de aclamação davam impressão de que todos os participantes concordavam com a autoridade real. Retratos do rei circulavam por todo império. Era fundamental que os signos e sentidos da realeza circulassem pelo tecido social, fossem comunicados e apreendidos através de festas oficiais e da realeza onde a maior parte da população assistisse e participasse. "Havia uma preocupação em vigiar e controlar a presença e circulação escrava e dos livres pobres e forros, assegurando que trabalhassem e não suscitassem a desordem social. (p. 54)1
A movimentação política deixou a negociação palaciana e infiltrou-se pelas ruas. D. Pedro assumia o papel de domador da cena pública, o governante do povo. O Revérbero Constitucional que não tinha afeição ao príncipe, a princípio, foi tornando-se simpático a ele. D. Pedro alia-se às elites pelo uso de sua figura, torna-se a melhor opção para ocupar o espaço público e encerrar em si a capacidade de representar a soberania, entrelaçando-se a ela, com isso é visto como um instrumento da vontade geral, o político capaz de resolver conflitos.
Durante a década de 1820 a figura do imperador foi perdendo credibilidade e com a derrota na guerra da Cisplatina, o desgaste foi inevitável, as festas para aclamação real não tinham mais sentido, pois acabavam em pancadaria. A credibilidade do imperador não era a mesma, ao passo que houve festas em nome da abdicação, celebrando o Império em detrimento do imperador. Com esse contexto, D. Pedro foi descartado, tendo de abdicar do trono e seguir para Portugal.
Bibliografia
SOUZA, Iara Lis C. Pátria Coroada: O Brasil como corpo político autônomo -- 1780-1831. São Paulo: Fundação Editora UNESP, 1999. Coleção prismas
SOUZA, Iara Lis C. A Independência do Brasil. Rio de Janeir

Nenhum comentário:

Postar um comentário