VEYNE, Paul Marie. Como
se escreve a História: Foucault revoluciona a história. Brasília, 1982: ed.
Universidade de Brasília. Tradução: Alda Baltar e Maria Auxiliadora Kneipp.
A história não é uma ciência e não tem muito a
esperar das ciências; ela não explica e não tem método; melhor ainda, a
historia, da qual muito se tem falado nesses dois últimos séculos, não existe. A
história narra um romance real. (p.7-8)
Os eventos são humanos, os fenômenos são naturais. A
história é uma narrativa de eventos. (p. 11)
Cada evento é relatado de formas diferentes pelos
diferentes atores e expectadores. (p. 12)
Em nenhum caso, os eventos são apreendidos de maneira
completa e direta, mas sempre por documentos e testemunhos, ou seja, por
indícios. (p. 12)
A narração histórica situa-se para além de todos os
documentos, pois nenhum deles pode ser o evento em si. (p. 12)
A história é filha da memória. (p.12)
No estudo de uma civilização, nos limitamos a ler o
que ela mesma escreve sobre si. (p.12)
Para o historiador, mesmo que um evento se repita
exatamente como ocorreu, se forem dois é o que importa, pois mesmo que ocorram
repetidamente, os fatos nunca serão os mesmos (p 14)
A história permite-se ser enfadonha sem, por isso,
desvalorizar-se. (p. 15)
O mais importante da análise é a verdade. (p. 15)
A história é um conjunto descontínuo, formado por
domínios, cada um deles definidos pela freqüência própria. (p. 17)
Não é possível se chegar a uma história total, pois
na análise se ganha de um lado perdendo de outro. (p. 17)
A história não trata dos eventos, mas daquilo que
podemos saber deles. (p. 18)
A história não é lógica. (p. 18)
As lacunas das fontes não nos impedem de escrever
algo a que se dá o nome de história... O mais curioso é que as lacunas da
história fecham-se espontaneamente aos nossos olhos... devemos aborda-las
providos de um questionário elaborado. O historiador pode dedicar dez paginas a
um só dia e comprimir dez anos em duas linhas, um século pode passar em branco.
O leitor confiará nele e julgará que esses anos são vazios de eventos. (p. 18)
A história não possui articulação natural. (p. 19)
A história não passa de uma pequena clareira no meio
de uma imensa floresta. (p. 19)
Quanto mais se alarga o horizonte factual, mais ele
parece indefinido. (p. 21)
Qualquer fato do dia a dia é indício de algum evento.
(p. 21)
Cada época tem sua maneira de ver as coisas e a
experiência profissional prova que a descrição dessas visões ofereceria ao
pesquisador matéria suficientemente rica e sutil. (p. 22)
A História não existe, existem histórias de... (p.
23)
Há uma pluralidade de interpretações fundamentalmente
equivalentes, mesmo que algumas delas possam distinguir-se pela sua
fecundidade. (p.25)
É impossível fixar uma escala de importância que não
seja subjetiva. (p. 25)
Os fatos têm uma organização natural que o
historiador encontra pronta; o esforço do trabalho histórico consiste,
justamente, em reencontrar essa organização. Dentro do assunto escolhido, essa
organização dos fatos lhes atribui uma importância relativa. (p. 27)
Os fatos não existem isoladamente, mas tem ligações
objetivas. (p. 27)
A verdade histórica não é nem relativa, nem
inacessível. (p. 27)
A trama não se organiza, necessariamente, numa
seqüência cronológica. (p.28)
Uma trama não é um determinismo, os detalhes tomam a
importância relativa que exige o seu bom andamento. (p. 28)
O fato nada é sem sua trama. (p.28)
Em história é impossível mostrar tudo porque não
existe fato histórico elementar nem partículas factuais. (p. 29)
A mesma situação espaço-temporal pode conter certo
número de objetos diferentes de estudo. (p. 29)
Nenhum historiador descreve a totalidade, pois deve
escolher o caminho que não pode passar por toda parte. Nenhum desses caminhos é
o verdadeiro ou é a história. (p. 30)
Um
acontecimento jamais coincide com o testemunho de seus atores e testemunhas.
(p. 31)
Os acontecimentos não são totalidades, mas núcleos de
relações. (p. 32)
Já que tudo é história, a história será aquilo que
escolhermos. (p. 33)
As escolhas constituem a história em suas fronteiras.
Há relação de valores, julgamentos de valor. (p. 36)
A história se propõe a narrar as civilizações do
passado e não salvar a memória dos indivíduos, ela não é uma coleção de
biografias. Ela não se ocupa dos indivíduos, mas daquilo que oferecem de específico.
(p.39)
É histórico tudo o que for específico, inteligível, exceto
a singularidade que faz com que os indivíduos existam um por um. Uma vez
afirmada a existência singular, tudo o que se pode dizer de um individuo possui
uma espécie de generalidade. (p. 39)
Tudo é história, exceto o que ainda não se entendeu o
porque. (p. 40)
O historiador leva à história um interesse particular.
(p. 43)
A história é um domínio onde não pode haver intuição.
(p. 43)
A história é a organização, por meio da inteligência,
de dados que se referem a uma temporalidade. (p. 44)
A história não diz respeito ao homem em seu ser intimo
e nem confunde o sentimento que tem de si próprio. (p. 44)
Em história explicar é explicitar. (p. 54)
A história necessita da compreensão para existir. (p.
61)
O ser e a identidade só existem por abstração. Já que
a história só quer conhecer o concreto, não é possível satisfazer completamente
essa pretensão, porém teremos feito muito se decidirmos jamais falar de
religião ou revolução, a fim de que o mundo da história seja povoado
exclusivamente de acontecimentos únicos e jamais de objetos uniformes. (p. 70)
Toda proposição histórica deve ser acompanhada de uma
historicização prévia. A história não se escreve sobre uma pagina em branco, a
historiografia é uma luta incessante contra nossa tendência ao contrassenso
anacrônico. (p. 71)
Todos os seres históricos, sem exceção, mudam num
mundo que muda e cada ser pode fazer mudar os outros e reciprocamente, pois o
concreto é transformação e interação. (p. 72)
O modo de explicar a história é fazer entender. O
historiador somente tem acesso a uma porção ínfima do concreto, a que lhe chega
pelos documentos de que se pode dispor; para todo resto ele precisa tapar os
buracos. (p. 73)
Os fatos têm causas, as causas nem sempre tem
conseqüências. (p. 74)
As inferências tropeçam nos dados dos documentos, mas
se as inferências não vão até o infinito, pelo menos elas vão muito longe. (p.
78)
A História é uma arte que supõe a aprendizagem de uma
experiência. E é cheia de idéias gerais e regularidades aproximativas. (p. 80)
Não se deve crer que episódios se explicam por uma ou
várias leis e pelo precedente. O sistema não é isolado e a cada momento são
acrescidos ou retirados elementos que tornam impossíveis quaisquer formas de
previsão da cadeia histórica. (p. 81)
Se uma relação causal pode ser repetida, nunca se pode
afirmar quando e em quais condições ela se repetirá. (p. 82) Provavelmente o
efeito será diverso ao original, pois o precedente trará experiências que serão,
ou não, evitadas. Evita-se assim uma repetição cíclica da história.
A causalidade é relativa para quem analisa os fatos,
cada análise pode oferecer uma causa negligenciada, ou simplesmente ignorada ou
desconhecida pelo outro analisador. (p. 86-7)
A história pode analisar um problema tanto a partir
das causas, quanto a partir do problema para se encontrar as causas. (p 88-9)
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