segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Souza, Laura de Melo e. Religiosidade popular na colônia. In. O diabo e a terra de santa cruz. Feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das letras, 1995. p. 86-150.
O texto demostra um distanciamento gigantesco entre os dogmas e a religiosidade vivida. Um bispado em cem anos, não cumprimento das ordens eclesiais, ceticismo da população, padres que ignoravam as ordens do santo Ofício. Coroa portuguesa como patrona das missões católicas e instituições eclesiásticas em suas colônias, com os jesuítas como organizadores do catolicismo.
Havia relações politicas entre padres e a Igreja, tanto que no século XVII, Roma restringe a ação do padroado criando a congregação para a propagação da fé.
Diálogo com Gilberto Freyre Casa Grande- Senzala-Capela, especificidade familiar e sincretismo herético de Carlo Guinzburg.
O catolicismo era religião de fachada. Os cultos tinham traços católicos, negros, indígenas e judaicos misturados condenando os colonos ao sincretismo religioso. Inconsciência religiosa, deturpação, desconhecimento completo dos dogmas, paganismos, aprendizagem catequética por memorização de poucos rudimentos religiosos, que não eram entendidos e após alguns anos esquecidos.
Deus era objeto de dúvidas e indagações. Havia descrença em Deus generalizada, utilização da fé como fornecedora de bens materiais, fornecedora de vantagens concretas ou tratamento de todos os males, como subterfúgio ao abarcamento de seus interesses, cometendo blasfêmias de todas as maneiras, até mesmo pelo mau viver dos padres. Muitos párocos vivam em regime de concubinato, eram sodomitas, ébrios, envolviam-se em brigas, rixas, jogatinas, crimes de todo tipo, desacatavam aos fiéis.
Os fiéis eram impacientes devido a curta duração da vida. A fé constantemente era posta em xeque, ‘justiça divina duvidosa e falha’. “Se Deus era o Criador a ser adorado, por que fizera a desigualdade social?” (p. 111).
Indistinção entre sagrado e profano traduzida na identificação e devoção aos santos. Familiarização com os santos. Crença judaica atrelada ao ceticismo. Explicação para tudo em Deus ou no diabo. Os colonos não tinham base científica que lhes explicasse os fenômenos, portanto tudo era explicado através de forças espirituais, sobrenaturais, metafísicas.
Completo desrespeito e desacato aos símbolos e ritos religiosos católicos. Havia muita ambiguidade, o que se ama às vezes se odeia, por uma economia religiosa de toma lá dá cá, quando se alcança a graça o amor se manifesta ao santo, quando não se alcança o esperado, xinga, atira-o nos cantos, odeia-o.
Demonização das ações humanas de ‘má vontade’ e divinização da aquisição de bens materiais. Tudo podia ser explicado pelo sagrado ou profano, pois sem uma razão sustentada na ciência, a Igreja dominava a mentalidade popular, porém com suas limitações conquanto à fé do povo. Menção ao padre Antonil como divinizador do produto mercantil gerador de lucros e bens.
Parecer do resenhista
A religiosidade colonial era extremamente falha em relação aos dogmas e preceitos religiosos católicos vigentes, mesmo porque a distância da Europa dificultava muito a repressão àqueles que se rebelassem contra a ordem religiosa. Mesmo os que eram pegos em atos heréticos às vezes não eram punidos por haver apenas um bispado em toda colônia durante mais de um século.
O carnaval também foi uma invenção dessa época, séc. XVI, onde os portugueses ‘fervorosos’ no catolicismo, quando defrontados com a quaresma, quarenta dias de privação de todos os prazeres carnais, montaram no calendário uma semana para extravasar nos deleites possíveis.
Indico este livro a todos que tenham interesse em conhecer um pouco sobre como os colonos se atinham às coisas sagradas, mediante a religiosidade vigente, o catolicismo.

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