Sobre comidas e
mulheres
Nós
brasileiros sempre associamos, até mesmo inconscientemente, acomida
a tudo, inclusive às mulheres. Nosso vocabulário é cheio dessas associações como
dizer: os homens “comem” as mulheres ao relacionarem-se sexualmente, quando se
reclama de algo que lhe garante o sustento é cuspir no prato que comeu, entre
outros.
Ao fazer esse tipo de associação não só
afastamo-nos de outras culturas, como fazemo-nos únicos, exatamente por
misturarmos tudo ao nosso redor, Roberto da Matta fala sobre a relação do cru
com o cozido, onde o cru é visto como a brutalidade, o duro, forte, o homem. O
cozido é o macio, o de mais fácil digestão, o delicado, a mulher.
Em outras culturas essa relação complexa é
mais difícil de compreensão, por não haver tanta relação entre a comida e a
vida. A preocupação de outros povos com a comida é de comer para viver, ou às
vezes viver para comer, mas relacionar tudo com o que comemos, isso é
brasileirismo.
Não há como pensar nessa relação sem pensar
no prato típico do nosso Brasil, o arroz com feijão. O branco com preto, o
preto no branco, a mistura interessante e intrigante aos outros povos, pois a
miscigenação é vista até mesmo no prato nosso de cada dia. Sem essa relação, o
cozido, prato popular onde o arroz e o feijão são cozidos juntos,
miscigenando-se e tornando-se algo único, não teria razão de existência.
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