A educação é parte integrante do
homem, porque, “não existe sociedade sem educação, nem homem no vazio” (p. 43).
E influi diretamente na política, pois é através da conscientização que se faz
possível a democracia, porque ela reconhece o despotismo padecido e produz a
luta pela libertação. Somente na medida em que se usa mais as funções
intelectuais e menos as instintivas e emocionais é que o homem pode
integrar-se, pois torna-se flexível e veloz no raciocínio. (p. 53). O
aprendizado é uma forma de se tomar consciência da realidade, porque a
conscientização é a prática da libertação, e “os alfabetizados são mais exigentes
em relação às lideranças populistas.” (p. 31)
O homem crítico existe e não
somente vive, pois consegue transcender, discernir, dialogar, comunicar,
participar, incorporar, modificar, temporalizar-se, integrar-se, objetivar-se, passar
experiência, criar e recriar, que juntos são o sentido da criticidade. Esse
existir é a capacidade de contextualizar-se que lhe dá liberdade para a
capacidade criadora e educadora. “A partir das relações com a realidade, o
homem temporaliza-a, domina-a, humaniza-a, pois é criando, recriando e
decidindo que o homem faz as épocas históricas e participa delas.” (p. 51).
Com isto a salvação democrática do
país estaria fazendo-o uma sociedade homogeneamente aberta través,
principalmente, da universalização da educação como fator preponderante da
criticidade. Para tanto é necessária a opção pelo pensamento crítico ante as
prescrições e expectativas alheias.“A libertação do homem vem através de uma
permanente atitude crítica” (p. 51).
O saber democrático jamais
congrega-se autoritariamente, pois somente existe como conquista comum do
trabalho do docente e do educando.“É impossível dar aulas de democracia e, ao
mesmo tempo considerarmos como absurdo e imoral a participação do povo no
poder.” (p. 23).O trabalho do educador deve ser complementado por políticas de
organização de massa, para que não sejam manipulados com tanta facilidade.
A conscientização é a grande luta
do homem para superar os fatores que o fazem acomodado e ajustado, e não
ideologizar ou propor palavras de ordem.Todavia,“toda prática implica em algum
perigo de transfiguração de suas ideias originais.” (p. 31).Entretanto,“a
conscientização abre caminho às manifestaçõesdas insatisfações sociais, que são
os componentes da situação de opressão, significa radicalização política.”(p.
20). Atéporque as “classes populares são radicais, ainda mesmo que não o
saibam.” (p. 20).
O tempo histórico apresenta tempos
de trânsito em que os valores são substituídos. Todo trânsito é tempo de
mudança, no entanto nem toda mudança é trânsito, ele implica numa marcha
acelerada rumo a novos temas e tarefas, afetando profundamente a ponto de criar
um novo período histórico.
O
grande mal estava no despreparo do brasileiro para a captação crítica do
desafio, descambando assim para a sectarização. E o fanatismo tem matriz
preponderantemente emocional e acrítica; é arrogante, antidialogal, reacionário,
nada cria porque não ama, não respeita o outro, tenta impor sua opinião ao
outro, é inclinado ao ativismo, que é ação sem vigilância da reflexão, daí o
gosto pela sloganização que dificilmente ultrapassa a esfera dos mitos,
morrendo assim em meias verdades, nutre-se do puramente relativo a que atribui
valor absoluto. (p. 58/59).
Na atualidade brasileira a
supremacia vem transplantando respostas e soluções, que fora do contexto,
acabamalienando o povo, massificando-o.A responsabilidade e o poder de decisão
são execrados no assistencialismo, e assimconstrói-se uma sociedade facilmente
manipulável, porque “a massificação e assistencialismo tem relação de causa e
efeito,” por isso “a assistência ideal é ajudar o homem a se ajudar.” (p. 65/66).
A resposta seria “uma visão nova de
velhos temas que se consubstanciando, nos levariam a uma sociedade crítica, mas
a distorção desses poderia levar-nos a uma sociedade de massas onde o homem
descritizado seria domesticado por sua acomodação.” (p. 55). A educação deve
propiciar a reflexão sobre o próprio poder de refletir dando-lhe
instrumentalidade, explicitação de suas potencialidades que decorre da
capacidade de opção. “A consciência intransitiva faz com que o homem viva numa
órbita vegetativa. Enquanto a transitividade da consciencia permeabiliza o
homem, leva-o ao compromisso existencial.” (p. 68).A transitividade crítica é o
ideal a se chegar por ser “a matriz da verdadeira democracia,” alcançada com
educação dialogal e ativa, voltada para a responsabilidade social e política. (p.
69/70). Enquanto a ingênua aceita tudo sem pestanejar e a fanática absolutiza o
seu ponto de vista.
Parecer da resenhista
Esse livro apresenta indicação para
estudantes e pesquisadoresna área das licenciaturas e pós-graduação, pois
apresenta linguagem clara, sendo útil para a formação e capacitação de
professores dedicados à prática da conscientização dos discentes, levando o
país assim à verdadeira democracia.
FREIRE,
Paulo. Educação como prática de
liberdade. 24. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
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