sexta-feira, 23 de agosto de 2013

resenha pedagogia como prática de liberdade


A educação é parte integrante do homem, porque, “não existe sociedade sem educação, nem homem no vazio” (p. 43). E influi diretamente na política, pois é através da conscientização que se faz possível a democracia, porque ela reconhece o despotismo padecido e produz a luta pela libertação. Somente na medida em que se usa mais as funções intelectuais e menos as instintivas e emocionais é que o homem pode integrar-se, pois torna-se flexível e veloz no raciocínio. (p. 53). O aprendizado é uma forma de se tomar consciência da realidade, porque a conscientização é a prática da libertação, e “os alfabetizados são mais exigentes em relação às lideranças populistas.” (p. 31)
O homem crítico existe e não somente vive, pois consegue transcender, discernir, dialogar, comunicar, participar, incorporar, modificar, temporalizar-se, integrar-se, objetivar-se, passar experiência, criar e recriar, que juntos são o sentido da criticidade. Esse existir é a capacidade de contextualizar-se que lhe dá liberdade para a capacidade criadora e educadora. “A partir das relações com a realidade, o homem temporaliza-a, domina-a, humaniza-a, pois é criando, recriando e decidindo que o homem faz as épocas históricas e participa delas.” (p. 51).
Com isto a salvação democrática do país estaria fazendo-o uma sociedade homogeneamente aberta través, principalmente, da universalização da educação como fator preponderante da criticidade. Para tanto é necessária a opção pelo pensamento crítico ante as prescrições e expectativas alheias.“A libertação do homem vem através de uma permanente atitude crítica” (p. 51).
O saber democrático jamais congrega-se autoritariamente, pois somente existe como conquista comum do trabalho do docente e do educando.“É impossível dar aulas de democracia e, ao mesmo tempo considerarmos como absurdo e imoral a participação do povo no poder.” (p. 23).O trabalho do educador deve ser complementado por políticas de organização de massa, para que não sejam manipulados com tanta facilidade.
A conscientização é a grande luta do homem para superar os fatores que o fazem acomodado e ajustado, e não ideologizar ou propor palavras de ordem.Todavia,“toda prática implica em algum perigo de transfiguração de suas ideias originais.” (p. 31).Entretanto,“a conscientização abre caminho às manifestaçõesdas insatisfações sociais, que são os componentes da situação de opressão, significa radicalização política.”(p. 20). Atéporque as “classes populares são radicais, ainda mesmo que não o saibam.” (p. 20).
O tempo histórico apresenta tempos de trânsito em que os valores são substituídos. Todo trânsito é tempo de mudança, no entanto nem toda mudança é trânsito, ele implica numa marcha acelerada rumo a novos temas e tarefas, afetando profundamente a ponto de criar um novo período histórico.
O grande mal estava no despreparo do brasileiro para a captação crítica do desafio, descambando assim para a sectarização. E o fanatismo tem matriz preponderantemente emocional e acrítica; é arrogante, antidialogal, reacionário, nada cria porque não ama, não respeita o outro, tenta impor sua opinião ao outro, é inclinado ao ativismo, que é ação sem vigilância da reflexão, daí o gosto pela sloganização que dificilmente ultrapassa a esfera dos mitos, morrendo assim em meias verdades, nutre-se do puramente relativo a que atribui valor absoluto. (p. 58/59).
Na atualidade brasileira a supremacia vem transplantando respostas e soluções, que fora do contexto, acabamalienando o povo, massificando-o.A responsabilidade e o poder de decisão são execrados no assistencialismo, e assimconstrói-se uma sociedade facilmente manipulável, porque “a massificação e assistencialismo tem relação de causa e efeito,” por isso “a assistência ideal é ajudar o homem a se ajudar.” (p. 65/66).
A resposta seria “uma visão nova de velhos temas que se consubstanciando, nos levariam a uma sociedade crítica, mas a distorção desses poderia levar-nos a uma sociedade de massas onde o homem descritizado seria domesticado por sua acomodação.” (p. 55). A educação deve propiciar a reflexão sobre o próprio poder de refletir dando-lhe instrumentalidade, explicitação de suas potencialidades que decorre da capacidade de opção. “A consciência intransitiva faz com que o homem viva numa órbita vegetativa. Enquanto a transitividade da consciencia permeabiliza o homem, leva-o ao compromisso existencial.” (p. 68).A transitividade crítica é o ideal a se chegar por ser “a matriz da verdadeira democracia,” alcançada com educação dialogal e ativa, voltada para a responsabilidade social e política. (p. 69/70). Enquanto a ingênua aceita tudo sem pestanejar e a fanática absolutiza o seu ponto de vista.
Parecer da resenhista
Esse livro apresenta indicação para estudantes e pesquisadoresna área das licenciaturas e pós-graduação, pois apresenta linguagem clara, sendo útil para a formação e capacitação de professores dedicados à prática da conscientização dos discentes, levando o país assim à verdadeira democracia.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 24. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

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